foto ©Nirton Venancio
No próximo dia 11 completarão 13 anos que o cantor Serguei esteve em Brasília e fez um show histórico. Ele tinha 76 anos. A paleontóloga apresentação dessa lenda do rock brasileiro foi num galpão “customizado” de pub underground na cidade-satélite Taguatinga, numa via com oficinas de carros, borracharias 24 horas, boates decadentes e fundos de supermercados, ao lado da linha de metrô pra Samambaia e vista para os prédios crescentes da “emergente” classe média alta Águas Claras. Local lateral apropriadíssimo para as escavações e exibição do panssexual roqueiro.
Assistir a um show de Serguei é sempre um show à parte, na mais completa tradução. Só vendo. E ouvindo. Mesmo que a voz rouca não tenha sido mais essas rouquidões todas, Serguei foi reverenciado, apalpado, beijado, por um seleto e eufórico grupo de fãs, como se fosse um Mick Jagger descamisado de Iggy Pop com estampa de Jim Morrison no peito feito porta de percepção. A postura outsider cada vez mais reincidente.
Com problemas cardíacos, pneumonia, fibromialgia e complicações de senilidade com início de Alzheimer, Serguei, ou Sérgio Augusto Bustamante, faleceu no final de tarde de 7 de junho de 2019, aos 85 anos, depois de onze dias internado num hospital em Volta Redonda, RJ, a duzentos e poucos quilômetros de Saquarema, onde vivia desde 1972. Nos últimos anos queixava-se de desnutrição e solidão.
Naquela noite fria em Brasília, Serguei, entre tantos covers de seu set list, com um telão ao fundo com imagens do filme Woodstock, ovacionou com a esperada Summertime, clássico jazz standard de George Gershwin e DuBose Heyward, de 1935, eternizado em 1969 pela versão blues de Janis Joplin, com quem ele assegurava ter rolado sexo, drogas e rock and roll – não necessariamente nessa 'desordem'. Ou sim.
Em 2017, em pleno período pós-golpe, com Temer, o vampiro do Jaburu, no Planalto Central do país, Serguei como sua admirável irreverência escreveu em sua página no Facebook:
"Indicações ministeriais são sempre polêmicas. Eu mesmo já propus a criação do Ministério da Psicodelia e até agora, nada."
A provocação foi por conta dos nomes dos ministros do governo golpista. Serguei foi poupado de ver o pior: a despsicodelia tosca da Esplanada dos Ministérios no desgoverno da alma sebosa e seus bichos escrotos, cruéis, cafonas, milicianos institucionalizados, uma trupe de gambás presigárgulas que se instalou no começo do ano de sua partida, com o resultado fatídico das eleições de 2018.
"Eu não volto mais / eu não quero mais / vou fazer assim / eu prefiro a morte sorrindo...", diria ele, como em seu rock Eu não volto mais, do compacto As alucinações de Serguei, de 1966.
E arremato com o título da postagem, uma tradução livre de um trecho de Summertime: “then you'll spread your wings and you'll take to the sky”.
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