quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

o cinema infinito de Eisenstein


Realizado em 1924, A greve (Stachka), de Serguei Eisenstein, é o mais importante filme sobre a força da classe trabalhadora como organização. Narra uma rebelião dos operários de uma fábrica na Rússia pré-revolucionária do início do século passado. Com enredo ficcional e uma estrutura surpreendentemente documental, ainda na era do cinema mudo, o filme expressa o poder de massa, de coletivismo sobre o individualismo institucionalizado.

É um dos mais significativos filmes sobre o que se desenvolveu como linguagem cinematográfica. Eisenstein criou em A greve o recurso narrativo “cross-curting”, técnica de corte entre ações paralelas, estabelecendo tramas em diferentes locais ou situações, mas que têm significados conotativos na simultaneidade do enredo. A cena de repressão contra a greve nas ruas com outra de uma manada sendo abatida no matadouro, provocam no espectador o impacto, o incômodo, a reflexão.
Um ano após A greve, Eisenstein realiza outro filme fundamental para a história da cinematografia mundial, O Encouraçado Potemkin (Bronenosets Potyomkin), versão dramatizada da rebelião dos tripulantes do navio de guerra da Marinha Imperial Russa de Frota do Mar Negro, contra seus oficiais superiores, ocorrida em 1905. Nesse clássico estão ampliadas, testadas, aprovadas e cristalizadas as mais revolucionárias teorias de montagem. O experimento de Eisenstein foi decisivo para consolidar o conceito de edição, o efeito potencial, emocional e reflexivo da imagem no público.
Ivan, o Terrível (Ivan Grozniy), seu último filme, concebido em três partes, numa estrutura operística como fizera em Potemkim, com cinco atos, começou a ser rodado em plena Segunda Guerra, 1944. Encomendado por Josef Stalin, que admirava e se identificava como um sucessor do Ivan IV, o Grão-Príncipe de Moscou do Século 16, o filme teve a segunda parte banida, assim como foi interrompida a terceira parte no meio das filmagens. O secretário-geral soviético não gostou como foi retratado.
Eisenstein faleceu em 11 de fevereiro de 1948, aos 50 anos, de ataque cardíaco. Ivan, o Terrível lançado dez anos depois, incompleto. Os negativos do terceiro ato foram destruídos.
Cito aqui três trabalhos do cineasta. Mas sua filmografia de treze títulos, entre eles, Outubro, A linha geral, Que viva México, Alexandre Nevski, é vasta pela relevância de cada obra para a compreensão do cinema como expressão artística.
Eisenstein e cinema são sinônimos. A palavra de um com o sentido do outro. Ambos imensuráveis, contínuos, imortais. Como disse Vinicius de Moraes em seu poema dedicado ao cineasta, Tríptico na morte de Sergei Mikhailovitch Eisenstein, de 1948:
O cinema é a presciente antevisão
Na sucessão de imagens. O cinema
É o que não se vê, é o que não é
Mas resulta: a indizível dimensão.
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Texto para o meu livro em preparação ©Crônicas do Olhar, a ser lançado pela
Editora Radiadora
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