sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

o amor de Nietzsche

foto Atelier Elvira, Munique, 1887

"Adeus. Não a verei mais. Proteja sua alma contra ações semelhantes e realize melhor com os outros aquilo que comigo não tem reparação. Não li sua carta, mas li demais.”

O bilhete em tom firme, dolorido e poético é de autoria do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, endereçado à psicanalista e escritora de origem russa Lou Andreas-Salomé, em 1882, depois de ter seu pedido de casamento por ela recusado.
Nietzsche, o grande pensador da evolução humana, sucumbiu à beleza e magnetismo de Lou ao ser apresentado a ela pelo amigo Paul Rée, também alemão e filósofo, autor do clássico Escritas básicas.
“Que estrelas em nós caíram para nos encontrarmos aqui?”, teria dito Nietzsche quando a viu na Basílica de São Pedro, em Roma. Mas as intenções de Lou eram outras. Os três mantiveram um intenso relacionamento até que Lou e Paul decidiram viver juntos, quando Nietzsche parte para Veneza. O filósofo segue para casa de sua mãe, na Alemanha, e sofre um colapso. Com a saúde agravada, recolhe-se na casa de sua irmã Elisabeth, falecendo em 1900. Um ano depois Paul abandona Lou e suicida-se.
A grande escritora Lou Andreas-Salomé tinha convicções e curiosidades avançadas para aquele final do século 19. Frequentava regularmente clubes para encontros lésbicos em Viena. Casou-se com o filologista Frederick Carl, 16 anos mais velho que ela, e tinha como amante nada menos que o famoso poeta Rainer Maria Rilke, 14 anos mais novo. Em 1952 foram publicadas as cartas trocadas entre os dois, no livro Correspondência, organizado e editado por Ernst Pfeiffer.
Sobre o relacionamento dos três, a cineasta italiana Liliana Cavani dirigiu em 1977 Além do bem e do mal (Al di là del bene e del male), tendo a bela Dominique Sanda no papel de Lou. Nietzsche foi interpretado bergmaniano Erland Josephson, enquanto o inglês Robert Powell, que um ano antes pegaram-no para Cristo em Jesus de Nazaré, de Franco Zeffirelli, "ressuscitou" no papel de Paul. Com sensacionalismo em torno do tema, o filme não foi bem recebido.
O livro Quando Nietzsche chorou, um magnífico romance sobre o nascimento da psicanálise, lançado no Brasil em 1995, do psicoterapeuta norte-americano Irvin D. Yalom, traça com personagens reais e situações que não aconteceram um interessante paralelo entre ficção e realidade. Lá estão Nietzsche, Lou, e os médicos austríacos Josef Breuer e Sigmund Freud.
Já o filme baseado no livro, dirigido por Pinchas Perry em 2007, não alcança o esperado. É de fazer Nietzsche chorar.
Lou Andreas-Salomé faleceu de insuficiência renal, enquanto dormia, sete dias antes de completar 76 anos, na noite de 5 de fevereiro de 1937.
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Texto para o meu livro em preparação ©Crônicas do Olhar, a ser lançado pela
Editora Radiadora
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foto Atelier Elvira, Munique, 1887

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