domingo, 21 de fevereiro de 2021

concentração de tempos

foto Coleção José Medeiros/Acervo Instituto Moreira Salles

A mais de 500 metros acima do nível do mar, mais alto que o Pão de Açúcar, mais baixo que o Corcovado, o Morro Dois Irmãos sobe o bairro do Vidigal, na cidade do Rio de Janeiro, e lá de cima o olhar se estende pelo Leblon, Ipanema, Copacabana, Gávea, São Conrado, e vê-se o Cristo Redentor e a comunidade da Rocinha.

Do alto, as retinas que miram a beleza, filtram o murmúrio da cidade, as ruas em convulsão, os homens e seus muitos irmãos, seus tantos desafetos, entre trânsito e transe, entre mares e margens, entre rios e janeiros.
Debaixo, “aprendi a respeitar tua prumada / e desconfiar do teu silêncio”, como cantou Chico Buarque em Morro Dois Irmãos”, 1989. Orquídeas, bromélias, antúrio, velózia, esquilos, gambás, gavião, pica-pau, a natureza que as retinas sabem e ouvem "a pulsação atravessada / do que foi e o que será noutra existência / é assim como se a rocha dilatada / fosse uma concentração de tempos”, ainda Chico em louvação.
A montanha aponta o mar sem medo dos homens. “As luzes brilham no Vidigal / e não precisam de você. / Os Dois Irmãos também não precisam", como salientou o poeta Antônio Cícero nos versos de Virgem, que Marina Lima gravou no disco de 1987. Os dois irmãos em referência e reverência aos Dois Irmãos.
Em 1952, o fotógrafo José Medeiros, um poeta da luz, do Arpoador fez a belíssima imagem do Morro, com a Pedra da Gávea, as praias de Ipanema e Leblon, e a moldura de dois carros para os irmãos ao fundo.
Nas canções e na fotografia, e na mesma linha, a cabeça, o olho e o coração, como dizia Cartier-Bresson.
Foto: Coleção José Medeiros/Acervo Instituto Moreira Salles

Nenhum comentário: