separando o joio do trigo

Li
hoje pela manhã nos jornais que o filme iraniano "A separação"
(Jodaeiye Nader az Simin), de Asghar Farhadi, ganhou o Oscar de Melhor
Filme em Língua Estrangeira. Essa categoria é a que salva na enxurrada
de mesmices e filmes medianos e medíocres que concorrem ao "grande"
prêmio do cinema.
"A separação" é muito bom. A sequência inicial, quando o casal de classe média (ela médica e ele bancário)
discute o seu divórcio num tribunal, é uma aula intensiva de cinema,
que esses cineastazinhos americanos deveriam aprender para melhorar seus
filminhos. A câmera fixa diante do casal está no ponto de vista do
juiz, e não se vê o juiz, apenas ouve-se suas ponderações. Não há
movimentos de câmera, não há contorções de steadicam, não close em 3D
aqui nem ali: apenas o quadro estático no diálogo dos dois que se
separam da vida conjugal. A palavra em consonância com o enquadramento
para não dispersar a essência dessa conversa tensa e densa. A câmera no
lugar do juiz faz com que o espectador assuma seu lugar, e
conscientemente analise a questão. Para isso é o cinema: para provocar a
reflexão, para mastigar a mensagem, para ramificar os neurônios. E
assim é todo o filme. Não há explosões de carros, não há Merryl Streep
com sua técnica e damaísmo, não há De Niro com seus cacoetes de Lee
Strasberg.
Mas não me engano não: os membros da LoucAcademia de
Artes e Ciências Cinematográficas não deram o Oscar ao filme de Aschar
Farhadi pelas suas qualidades artísticas, pela milenar riqueza cultural
do povo iraniano, que está expressa nas questões abordadas. O Oscar vai
contra o governo do Irã. Longe de mim defender aquele maluco vesgo de
olhos miúdos Ahmadinejad! A estatueta é uma provocação dos americanos,
não um reconhecimento da grandiosidade de um filme.
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