segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

separando o joio do trigo

Li hoje pela manhã nos jornais que o filme iraniano "A separação" (Jodaeiye Nader az Simin), de Asghar Farhadi, ganhou o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira. Essa categoria é a que salva na enxurrada de mesmices e filmes medianos e medíocres que concorrem ao "grande" prêmio do cinema.

"A separação" é muito bom. A sequência inicial, quando o casal de classe média (ela médica e ele bancário) discute o seu divórcio num tribunal, é uma aula intensiva de cinema, que esses cineastazinhos americanos deveriam aprender para melhorar seus filminhos. A câmera fixa diante do casal está no ponto de vista do juiz, e não se vê o juiz, apenas ouve-se suas ponderações. Não há movimentos de câmera, não há contorções de steadicam, não close em 3D aqui nem ali: apenas o quadro estático no diálogo dos dois que se separam da vida conjugal. A palavra em consonância com o enquadramento para não dispersar a essência dessa conversa tensa e densa. A câmera no lugar do juiz faz com que o espectador assuma seu lugar, e conscientemente analise a questão. Para isso é o cinema: para provocar a reflexão, para mastigar a mensagem, para ramificar os neurônios. E assim é todo o filme. Não há explosões de carros, não há Merryl Streep com sua técnica e damaísmo, não há De Niro com seus cacoetes de Lee Strasberg.

Mas não me engano não: os membros da LoucAcademia de Artes e Ciências Cinematográficas não deram o Oscar ao filme de Aschar Farhadi pelas suas qualidades artísticas, pela milenar riqueza cultural do povo iraniano, que está expressa nas questões abordadas. O Oscar vai contra o governo do Irã. Longe de mim defender aquele maluco vesgo de olhos miúdos Ahmadinejad! A estatueta é uma provocação dos americanos, não um reconhecimento da grandiosidade de um filme.

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