terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
separando o joio do trigo
Li
hoje pela manhã nos jornais que o filme iraniano "A separação"
(Jodaeiye Nader az Simin), de Asghar Farhadi, ganhou o Oscar de Melhor
Filme em Língua Estrangeira. Essa categoria é a que salva na enxurrada
de mesmices e filmes medianos e medíocres que concorrem ao "grande"
prêmio do cinema.
"A separação" é muito bom. A sequência inicial, quando o casal de classe média (ela médica e ele bancário)
discute o seu divórcio num tribunal, é uma aula intensiva de cinema,
que esses cineastazinhos americanos deveriam aprender para melhorar seus
filminhos. A câmera fixa diante do casal está no ponto de vista do
juiz, e não se vê o juiz, apenas ouve-se suas ponderações. Não há
movimentos de câmera, não há contorções de steadicam, não close em 3D
aqui nem ali: apenas o quadro estático no diálogo dos dois que se
separam da vida conjugal. A palavra em consonância com o enquadramento
para não dispersar a essência dessa conversa tensa e densa. A câmera no
lugar do juiz faz com que o espectador assuma seu lugar, e
conscientemente analise a questão. Para isso é o cinema: para provocar a
reflexão, para mastigar a mensagem, para ramificar os neurônios. E
assim é todo o filme. Não há explosões de carros, não há Merryl Streep
com sua técnica e damaísmo, não há De Niro com seus cacoetes de Lee
Strasberg.
Mas não me engano não: os membros da LoucAcademia de
Artes e Ciências Cinematográficas não deram o Oscar ao filme de Aschar
Farhadi pelas suas qualidades artísticas, pela milenar riqueza cultural
do povo iraniano, que está expressa nas questões abordadas. O Oscar vai
contra o governo do Irã. Longe de mim defender aquele maluco vesgo de
olhos miúdos Ahmadinejad! A estatueta é uma provocação dos americanos,
não um reconhecimento da grandiosidade de um filme.
domingo, 26 de fevereiro de 2012
festa estranha com gente esquisita
Recuso-me
a ficar insone madrugada a dentro assistindo entrega de Oscar: essa
festa careta, com suas apresentações pirotécnicas e ocas, com seus
apresentadores com piadinhas sem graça, com suas estrelas enfeiuradas
com vestidos esquisitos, tudo celebrando um cinema medíocre, previsível,
acomodado, salvo raras exceções de um e outro filmes pretensamente
ousados, um e outro cineastas estrategicamente desobedientes aos ditames
de uma cinematografia acadêmica e dominante.
Na foto acima, Orson Welles, que só ganhou um Oscar em toda sua ótima
filmografia: pelo roteiro de "Cidadão Kane", em 1941. Perdeu Melhor
Filme para "Como era verde o meu vale" (muito sintomático!), de John
Ford, e ator para Gary Cooper em "Sargento York" (mais sintomático ainda
para o bélico público americano).
sábado, 25 de fevereiro de 2012
já vai tarde!
foto Walter Ney
Acaba hoje à meia-noite o chatíssimo horário de verão. Já vai tarde! Vá e não volte mais, nunca mais!terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
linhagem
foto Arquivo Nacional DF
Sempre me perguntam se tenho parentesco com os Venancios de Brasília. Nenhum. Infeliz coincidência. Sou de outra linhagem.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
outro bloco
Parafraseando
Sérgio Sampaio, eu por mim, queria isso e aquilo, um quilo mais
daquilo, um grilo menos disso, é disso que eu preciso ou não é nada
disso, eu quero é ficar longe de carnaval...
domingo, 19 de fevereiro de 2012
um gladiador no cerrado

O cidadão aí na foto (de terno e chapéu de couro!), entre serpentinas e confetes, é Issur Danielovitch Demsky, mais conhecido como Kirk Douglas. O cenário: salão do então majestoso Hotel Nacional de Brasília. A data: 23 de fevereiro de 1963, um sábado de carnaval.
Naquele ano, acompanhado da sua segunda mulher, Anne Boydens, o ator estava na cidade do Rio de Janeiro, convidado para o carnaval carioca. Mas deu uma esticadinha até a nova capital brasileira. Brasília ainda era um enorme canteiro de obras, muitos esqueletos de edifícios, uma vastidão sem fim. Mas ninguém é de ferro, e os candangos se animavam como podiam naqueles quatro dias de samba, suor e poeira vermelha. O pessoal que pegava no pesado e os moradores das asas Sul e Norte, iam para a frente da Estação Rodoviária, onde aconteciam os desfiles das escolas de samba. Que nomes teriam? Unidos dos Cerrados? Descobri que a principal delas se chamava Alvorada em Ritmos.
Mas o ator de "Spartacus" não chegou a assistir a nenhum desses desfiles. No dia seguinte ao baile no hotel, deu um passeio pela cidade, andou de lancha e pescou no artificial Lago Paranoá e se mandou de volta ao Rio, claro.
Naquele começo dos anos 60 Kirk Douglas tinha feito cinco filmes de sucesso, além do citado filme dirigido por Stanley Kubrick, sobre o destemido gladiador que levou Roma à revolta dos escravos.
O ótimo western "O último pôr-do-sol" (The last sunset), 1961, de Robert Aldrich, era um desses filmes que deveria estar na memória daqueles foliões no Hotel Nacional.
"Cidade sem compaixão" (Town without pity), de Gottfried Reinhardt, "Sua última façanha" (Lonely are the brave), de David Miller, "Sede de vingança" (The Hook), de George Seaton e "A cidade dos desiludidos" (Two weeks in another town), de Vincent Minnelli, foram filmes talvez não exibidos em algum raro cinema da nova cidade, mas que levaram multidões aos cines da antiga capital, Rio.
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
eu te amo, tu me amas
Nestes
tempos digitalizados, é muito bom receber cartões de aniversário
personalizados pela doçura de quem nos ama, de quem amamos.
Minha filha de oito anos me acordou com um cartãozinho singelo,
gracioso, que deve ter feito no silêncio do seu quarto rosa na noite de
ontem.
Uma folhinha de papel ofício A4, as canetinhas hidracor e
coraçãozinho dela esparramado sobre a mesa. No desenho saímos eu e
ela de mãos dadas, e faz sol e chove, e ela que me proteje com um
guarda-chuva-sol. O texto de lápis é tão leve que não aparece aqui, mas
está aqui em mim.
Meu
filhão adolescente, que na quietude dele curte rap e hip-hop e outras
bossas da idade, me beijou hoje cedo com um cartão bem ao estilo das
batidas rítmicas, com a textura dos grafites, com os 'loops' dos
recados: peguei bem seu discurso, meu querido, seu MCs de coração aberto
dentro mim.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Tolstói
"As igrejas, como sociedades afirmadoras de sua infabilidade, são instituições anticristãs."
Leon Tolstói, um dos grandes autores da literatura russa do século XIX, e um dos maiores de todos os tempos.
Já naquela época o escritor constestava dogmas de igrejas e governos. Obras-primas como "Guerra e paz", "O reino de Deus está em nós", "Anna Karenina", refletem essa sua postura corajosa.
Leon Tolstói, um dos grandes autores da literatura russa do século XIX, e um dos maiores de todos os tempos.
Já naquela época o escritor constestava dogmas de igrejas e governos. Obras-primas como "Guerra e paz", "O reino de Deus está em nós", "Anna Karenina", refletem essa sua postura corajosa.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
consciência libertária
foto Divulgação Imagem Filmes
"Temos
uma cinematografia prisioneira, enclausurada em um sistema colonial. O
único idioma que tem espaço é o inglês e as únicas produções que
aparecem são as de Hollywood. Essa é a situação colonial que estamos
metidos e que não tem sido possível reverter em mais de 40 anos de luta
constante. Que seja, não podemos abandoná-la. Porque se a abandonarmos,
estaremos abandonando um fator fundamental da nossa criação."
Trecho de uma ótima entrevista com o cineasta chileno Miguel Littin, na revista Caros Amigos, edição de janeiro.
Littin, o mais representativo cineasta do seu país, tem um pensamento
lúcido, uma atuação corajosa em nome do que ele define como "a
construção de uma consciência humanista e libertária".
A foto
acima é de seu novo filme, "Dawson Ilha 10", co-produzido com o Brasil e
a Venezuela. Baseado nas memórias de Sergio Bitar, ex-ministro de Minas
do governo Allende, narra um dos episódios mais aterradores da ditadura
Pinochet: a prisão e o exílio dos ministros do deposto presidente, em
1973, na gelada ilha Dawson, no sul do país, que se transforma num campo
de concentração.
domingo, 5 de fevereiro de 2012
daspu
foto Divulgação
Em
cartaz no CCBB em Brasília, a peça "Filha, mãe, avó e puta", dirigida
por Guilherme Leme, com Alexia Dechamps e Louri Santos, tem montagem
equivocada, que dilui e disperdiça completamente a força e singularidade
da história. Baseada na autobiografia de Gabriela Leite, lançada
em 2009, narra com extrema sinceridade e naturalidade, a tragetória da
então estudante de filosofia da USP que no
começo dos anos 70 optou pela prostituição como profissão, lutou pelo
reconhecimento da atividade, e teve notoriedade como criadora da Daspu,
da Ong Davida e por sua participação nas campanhas contra a Aids.
A fragilidade da adaptação teatral é o formato de entrevista como
narrativa. Sentados a uma mesa, um jornalista faz perguntas para a
convidada, como estivessem em um estúdio de televisão. Cara a cara. A
peça ganharia muito mais pulsação dramática se fosse um monólogo da
personagem expondo sua história para a platéia, com movimentos em cena
que o próprio texto sugere. Mas aí precisaria de uma outra atriz.
Fico com o livro.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
"bom pra mim e bom pra tu"
Chico Science dizia que com um passo à frente e
você não está mais no mesmo lugar. E nada mais ficou como antes no
mangue do Capibaribe depois de seu beat acelerado, juntando no mesmo
ritmo e percursão o pop, o hip hop, o eletrônico, o rock, o baião, o
côco e a embolada, o samba e o maracatu, "bom pra mim e bom pra tu", as
raízes da cultura nordestina, trazendo da lama ao caos e do caos à lama
o seu manifesto de caranguejos com cérebro.
A primeira vez que ouvi Chico Science, lá no começo dos anos 90, foi através de Franklin Júnior, cineasta pernambuco, da equipe de produção de "Corisco e Dadá", filme de Rosemberg Cariry, onde fiz assistência de direção. Mostrou-me uma fita e não parava de falar entusiasmado com a novidade de seu Recife. Fui à Nação Zumbi e não parei mais de ouvir a afrociberdelia desse moço com seu chapéu côco e enormes óculos escuros.
Hoje, 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, a quem peço as bençãos neste meu mês aquariano, faz 15 anos que tinha um poste no meio do caminho de Chico Science. Cara, você só tinha 30 anos! Sua máxima, Chico, vai na contramão da nossa saudade: você está no mesmo lugar dentro de nós que continuamos com sua música.
A primeira vez que ouvi Chico Science, lá no começo dos anos 90, foi através de Franklin Júnior, cineasta pernambuco, da equipe de produção de "Corisco e Dadá", filme de Rosemberg Cariry, onde fiz assistência de direção. Mostrou-me uma fita e não parava de falar entusiasmado com a novidade de seu Recife. Fui à Nação Zumbi e não parei mais de ouvir a afrociberdelia desse moço com seu chapéu côco e enormes óculos escuros.
Hoje, 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, a quem peço as bençãos neste meu mês aquariano, faz 15 anos que tinha um poste no meio do caminho de Chico Science. Cara, você só tinha 30 anos! Sua máxima, Chico, vai na contramão da nossa saudade: você está no mesmo lugar dentro de nós que continuamos com sua música.
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