sábado, 6 de maio de 2023

o século do cinema


"Esta honra só posso aceitar em nome de todos os inconformistas. Podem ser livres, mas não se consideram únicos nem se veem como os melhores".
- Orson Welles ao agradecer a tardia homenagem do Instituto do Cinema Americano, em 1975.
Quatro anos antes a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas concedeu a ele o Oscar Honorário. O diretor não esteve presente na noite de cerimônia. Mandou uma gravação com o agradecimento diretamente para o colega John Huston, que lhe faria a entrega no palco. "É mais divertido olhar adiante do que para o passado. 30 anos de carreira dão para muito, mas não posso esquecer que passei esse tempo sozinho", disse.
A grandiosidade de Orson Welles nunca foi devidamente reconhecida pela indústria cinematográfica dos Estados Unidos. Em toda sua filmografia só ganhou um Oscar, pelo roteiro de Cidadão Kane (Citizen Kane), em 1941. Merecia mais. O cineasta perdeu a estatueta de melhor filme para Como era verde o meu vale (How green was my valley), de John Ford, e ator para Gary Cooper em Sargento York (Sergeant York), de Howard Hawks.
Em 2001 o historiador e professor de cinema da UFC Firmino Holanda lançou o livro Orson Welles no Ceará, Edições Demócrito Rocha, intensa, detalhada e surpreendente pesquisa sobre a passagem do cineasta em terras alencarinas para rodar o mitológico, e inacabado, It's All True, em 1942. Holanda, com seu olhar apurado, dedicação admirável e escrita fluente, é um dos maiores estudiosos de Welles e Glauber Rocha.
Com um viés mais para reflexão sociológica, Nem toda história é uma ilha, ensaio do publicitário Fernando Costa como trabalho de conclusão de curso de Ciências Sociais, na UFC, é outra publicação relevante sobre o tema. Lançado em 2017 pela Aldeota Edições, o autor desenvolve seu texto a partir do encontro de Welles com o jangadeiro Manuel Jacaré e o que mudou na vida de ambos para sempre, pontuando com a denominação "indivíduos sócios-históricos" conceituada pelo antropólogo estadunidense Marshall Sahlins.
Em 2019 Firmino Holanda retoma o assunto expandindo sua pesquisa transversalmente com o cinema. Em parceria com o cineasta Petrus Cariry escrevem o roteiro e dirigem A jangada de Welles, apresentado na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O documentário dá um enfoque elucidativo no caso dos pescadores cearenses que remaram até a sede do governo Vargas, no Rio de Janeiro, para apresentar reivindicações por direitos trabalhistas e por moradia no seu espaço tradicional, alvo de especulação imobiliária.
Welles é inesgotável. Livros e documentários serão sempre instigantes sobre esse gênio que completa hoje um século e oito anos de nascimento.
O cineasta fotografado por Victor Skrebneski em seu estúdio, Los Angeles, 1970.
 

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