“A noite que houve, em que eu, deitado, confesso, não dormia; com dura mão sofreei meus ímpetos, minha força esperdiçada, de tudo prostei. Ao que veio uma ânsia. Agora eu queria levar meu corpo debaixo da cachoeira branca dum riacho, vestir terno novo, sair de tudo que eu era, para entrar num destino melhor.”
Manhã de domingo, caminho sob o sol seco do cerrado. Chego ao verde de Minas. Bato à porta da página 296 de Grandes Sertões: Veredas, do imenso Guimarães Rosa e revisito Riobaldo. Isolado entre os jagunços, não se sente um deles. Está lá pelo amor que Diadorim lhe despertou. Riobaldo sente desconforto no bando. Sente falta do lado lá de fora, de música, das pessoas, de festas. “Eu queria era um divertimento de alívio”, diz ele para ele mesmo no isolamento, diz ele para mim. Riobaldo olha-me compartilhando o sentimento, como cúmplice do que também sinto. Pela fresta da janela ele estende os olhos na vastidão lá fora. Sofreia os ímpetos e espera. Viro a página e ele baixa o rosto acompanhando meu gesto e meu olhar. “Esperei a escuridão passar. Mas quando o dia clareou de todo, eu estava diante do buritizal”, diz-me.
Assim, saído há meses e aos poucos do isolamento, esperei a escuridão passar, pelo amor de Diadorim da vida em mim. Buriti é uma planta da arecácea também do planalto central. Organizei o movimento do meu silêncio para estar diante do buritizal de Rosa que se alonga quando o dia com mais segurança clareasse.
Sento-me ao lado de Riobaldo diante o buritizal. Ele olha para o céu, ele olha adiante. “Ainda há algumas nuvens cinzas e jagunços nos arredores do palácio, no planalto. Cuidemo-nos”, alerta. É preciso cautela para entrar num destino melhor.
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