“Os flagelos, com efeito são uma coisa comum, mas acredita-se dificilmente neles quando nos caem sobre a cabeça. Houve no mundo tantas pestes como guerras. E, contudo, as pestes, como as guerras, encontram sempre as pessoas igualmente desprevenidas.”
Trecho da primeira parte, página 24, de A peste, de Albert Camus, escrito durante a Segunda Guerra Mundial, publicado em 1947.
A história se passa em Oran, cidade no litoral mediterrâneo da Argélia, que é assolada por uma epidemia, devastando os habitantes progressivamente.
Filósofo, jornalista, ensaísta, dramaturgo, romancista, o franco-argelino Albert Camus (1913-1960) foi militante na Resistência Francesa assim como tomou posições decisivas na Guerra da Independência de seu país de origem.
Para escrever A peste, inspirou-se na pestilência de cólera em 1849 em Oran, ao mesmo tempo que faz uma analogia à ocupação nazista na Europa.
As duas leituras - o mal invisível da contaminação biológica e a maldade na concretude humana - convergem para a reflexão sobre a impotência, a exclusão da liberdade e, sobretudo, a ruminação sobre a solidariedade necessária entre os homens, a urgência do ser coletivo tomar forma, corpo e atitude em detrimento do particular, do individual, da peste do ego.
No livro vemos a morte se aproximar, invadir e alterar a rotina dos habitantes, encurralados pelo horror. Homens, mulheres, crianças, velhos, o juiz, o médico, o padre, todos se veem separados, isolados, sem comunicação exterior, e em suas inquietações interiores se conscientizam da importância que as pessoas tinham em suas vidas.
Do bacilo argelino em Oran do século 19 ao surto virótico na chinesa Wuran de 2020, “como no resto do mundo, por falta de tempo e de reflexão, é-se obrigado a amar sem o saber", como diz Albert Camus em outro trecho de sua obra máxima.
No Brasil, na data de hoje, 7.040.608 casos de contaminação por Covid-19, 6.239.192 pacientes recuperados, 183.735 mortos.
Protejam-se! Cada um por si e por todos! O vírus continua. Não temos vacina nem governo.
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