A poeta portuguesa Florbela Espanca foi uma mulher à frente do tempo no desacolhimento aos costumes provinciais em uma sociedade patriarcal, conservadora. Matriculou-se no curso secundário em uma escola onde o nome por si era discriminatório, Liceu Masculino de Gouveia, em Évora. Foi até o final, desafiando os vetustos professores. Fez o mesmo quando ingressou na Faculdade de Direito em Lisboa, mas largou e formou-se em Letras. Começou a escrever no jornal Dom Nuno, periódico cheio de artigos assinado por homens. Casou-se três vezes. O último marido, um médico que fora seu amante quando estava casada com o segundo.
Além das atitudes, o pioneirismo florbeliano se revela numa obra marcada em alguns sonetos por feminilidade e erotismo lírico, em versos recheados de vocábulos derivados de paixão, amor, saudade, beijos...
Filha de caso extraconjugal, registrada ilegítima de pai incógnito, traumas de um aborto involuntário, sérios sinais de neurose, a morte de um irmão querido em acidente aéreo, Florbela fez duas tentativas de suicídio... e na terceira, "os dias são outonos, choram... choram... / há crisântemos que descoram... / há murmúrios dolentes de segredos...", como sentencia em Fumo, soneto publicado em Livro de Sóror Saudade, de 1923.
Florbela tinha apenas 36 anos quando a vida se desfez em "fumo leve que foge entre meus dedos!...", em 1930, no mesmo dia e mês em que nasceu, 8 de dezembro, por overdose de barbitúricos ao receber o diagnóstico de um edema pulmonar.
Seus dias inquietos, sua solidão, seus sofrimentos íntimos intransferíveis, se refletem em uma poesia tão flor, tão bela, "no mist'rioso livro do teu ser..”
“O que é a vida e a morte / Aquela infernal inimiga / A vida é o sorriso / E a morte da vida a guarida”, escreveu em seu primeiro poema, aos 9 anos de idade, intensa.
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