terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

festa estranha

Woody Allen recusou-se a ir receber o Oscar em 1978, quando foi indicado e premiado como melhor filme e melhor diretor por Annie Hall, no Brasil Noivo neurótico, noiva nervosa. Repetiu o gesto - considerado um erro diplomático - em 1987, quando Hannah e suas irmãs (Hannah and her sisters) concorreu nas categorias de filme, direção, edição, direção de arte, ator coadjuvante e atriz coadjuvante, ganhando nestas duas últimas, respectivamente, Michael Caine e Dianne Wiest. O diretor novaiorquino preferiu tocar jazz em seu barzinho predileto.
Marlon Brando, em protesto pelo modo como os Estados Unidos discriminavam os índios nativos do país, não compareceu à cerimônia de entrega do Oscar, premiado por seu trabalho em O poderoso chefão (The Godfather), de Francis Coppola, em 1972. Enviou em seu lugar a atriz Sacheen Littlefeather, que subiu ao palco caracterizada de índia.
Glauber Rocha foi mais radical: em 1970, seu filme O dragão da maldade contra o santo guerreiro foi escolhido pelo Ministério da Cultura para representar o Brasil na categoria de filme de língua estrangeira. O cineasta baiano, com muita bravura temperada com dendê, declarou com sua vulcânica segurança que não tinha interesse em participar da seleção. O dragão da maldade da ditadura Médici que escalasse outra seleção pra frente Brasil.
Em 2006 o cineasta finlandês Aki Kaurismaki fez o mesmo: não permitiu que seu filme Luzes na escuridão (Laitakaupungin valot) fosse sequer indicado ao prêmio, em protesto veemente contra a política externa do bélico George W. Bush.
O cineasta brasileiro Murilo Salles tem uma opinião que vai de encontro a esses posicionamentos de recusa dos colegas: "Oscar não é merecimento - é indústria. Oscar é a maior propaganda grátis de Hollywood: tem ótimo custo-benefício. Os Estados Unidos dominam o mundo não à toa."
É uma festa invariavelmente careta, com suas apresentações pirotécnicas e ocas, com seus apresentadores com piadinhas sem graça, com suas estrelas irreconhecíveis em figurinos esquisitos, tudo celebrando um cinema previsível, acomodado, salvo raras exceções de um e outro filmes pretensamente ousados na categoria estrangeira, um e outro cineastas estrategicamente desobedientes aos ditames de uma cinematografia acadêmica e dominante.

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