Em 1972 Elis Regina lançou um dos seus melhores discos, Elis. Das 12 memoráveis faixas, estão lá pérolas do cancioneiro brasileiro: Águas de março, de Tom Jobim, Nada será como antes e Cais, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, Atrás da porta, de Chico Buarque e Francis Hime, Mucuripe”, de Fagner e Belchior, e uma que fico na memória afetiva de muitas gerações, Casa de campo, de Zé Rodrix e do compositor mineiro da constelação do Clube da Esquina, Tavito.
A música vencera, um ano antes, o Festival da Canção de Juiz de Fora. Rodrix acabara de sair da banda Som Imaginário, criada de certa forma para acompanhar Milton Nascimento, e passou a ondular composições pelas montanhas de Minas, numa fusão com influências tropicalistas, um folk com pitadas de um regionalismo do sertão verde de Guimarães Rosa: muitos rocks rurais.
O timbre conceitual imprimido em Casa de campo deve-se muito a verve eclética de Tavito, compositor fundamentado na intuição, no que tem de mais campesino dentro do urbano, das esquinas, das serestas e serenatas. Tavito transitava sem comprometimentos e sem perder a autenticidade poética, das canções idílicas sobre lembranças de juventude, como a belíssima Rua Ramalhete, parceria com Ney Azambuja, gravada em seu primeiro álbum solo, 1979, ao jingle involuntário da Copa do Mundo de 1994, Coração verde e amarelo, com Aldir Blanc.
Tavito partiu hoje para outra casa de campo. Hospitalizado em São Paulo, tratava-se de um câncer no pescoço. Ele sabia dos limites do corpo e nada mais. Tinha 71 anos. Deixou muitos amigos, muitos discos, muitos livros, muitos carneiros e cabras pastando solenes em seu jardim, muito mais no coração de quem lhe eterniza com o bem querer.
Como ele dizia na canção, está agora “onde eu possa ficar do tamanho da paz.”
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