terça-feira, 12 de setembro de 2017

lugar bonito

foto Bob Wolfeson
"Na minha memória - tão congestionada - e no meu coração - tão cheio de marcas e poços - você ocupa um dos lugares mais bonitos."

De tantos fragmentos que Caio Fernando Abreu escreveu em sua vasta literatura, esse acima me toca pela concisão poética e pela lucidez e racionalidade ao mesmo tempo.

O autor gaúcho, que escreveu livros de contos, novelas, romances, peças de teatro, traduções (é dele a versão do clássico A Arte da Guerra, de Sun Tzu), tinha exatamente esse laconismo e exatidão na escrita, sem necessariamente ser minimalista. Usava as palavras no espaço certo, sem precisar se estender em sinônimos para total compreensão.

Viveu em período brabo de ditadura militar, foi um dos primeiros a escrever abertamente sobre sexo numa visão dramática, e assumiu sem rodeios sua homossexualidade. Hoje quando faria 69 anos, com certeza estaria com o coração marcado, congestionado de indignação ao ver as portas do Santander Cultural de sua Porto Alegre cerradas pelo obscurantismo em pleno século 21, censurando a exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira.

O escritor se foi com apenas 47 e ocupa um ocupa um lugar bonito em nossa lembrança, na literatura brasileira. Onde estiver.

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