foto Bob Wolfeson
"Na minha memória - tão
congestionada - e no meu coração - tão cheio de marcas e poços - você ocupa um
dos lugares mais bonitos."
De tantos fragmentos que Caio
Fernando Abreu escreveu em sua vasta literatura, esse acima me toca pela
concisão poética e pela lucidez e racionalidade ao mesmo tempo.
O autor gaúcho, que escreveu
livros de contos, novelas, romances, peças de teatro, traduções (é dele a
versão do clássico A Arte da Guerra, de Sun Tzu), tinha exatamente
esse laconismo e exatidão na escrita, sem necessariamente ser minimalista.
Usava as palavras no espaço certo, sem precisar se estender em sinônimos para
total compreensão.
Viveu em período brabo de
ditadura militar, foi um dos primeiros a escrever abertamente sobre sexo numa
visão dramática, e assumiu sem rodeios sua homossexualidade. Hoje quando faria
69 anos, com certeza estaria com o coração marcado, congestionado de indignação
ao ver as portas do Santander Cultural de sua Porto Alegre cerradas pelo obscurantismo
em pleno século 21, censurando a exposição Queermuseu – Cartografias da
Diferença na Arte Brasileira.
O escritor se foi com apenas 47 e
ocupa um ocupa um lugar bonito em nossa lembrança, na literatura brasileira.
Onde estiver.
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