domingo, 11 de agosto de 2024

pais no cinema

Acima, a sequência final do filme Ladrões de bicicleta (Ladri di biciclette), de Vittorio De Sica, 1948: na Roma pós-guerra, cansado de procurar por sua bicicleta roubada, o desempregado Antonio Ricci decide furtar uma em frente a um estádio.

A câmera ali centralizada na aflição do pai, sob o olhar confuso, triste e complacente do filho Bruno.
Clássico do neorrealismo, é um dos filmes mais importantes da história do cinema e da minha vida. Direcionou o meu olhar e a forma de fazer cinema, deu início a minha devoção pela cinematografia italiana, que tão bem sabe contar histórias sobre núcleo familiar.
Em Ladri, o garoto, ao mesmo tempo que está perdido, contorna situações através de seu ponto de vista e de sua sensibilidade de criança observadora. O personagem é o fio condutor do filme, sua ligação com o pai é o que enlaça a construção narrativa. O mesmo fez Pietro Germi em O ferroviário (Il ferroviere), de 1956. O diretor, ao centralizar toda dramaticidade na relação do pai maquinista com o filho que vai sempre esperá-lo na estação, declaradamente, nessa intertextualidade afetiva, homenageou o pequeno ator Enzo Staiola por sua atuação no filme de De Sica.
E eu, ao estrear no mundo como pai, dei ao meu filho o nome Enzo. De forma invertida, no olhar contre-plongée do filho, uma homenagem também ao ator Lamberto Maggiorani, que lembra muito meu pai, pelo rosto esculpido de operário, o paletó roto e as mãos dadas. Meu filho olha para mim, que olho para meu pai.
Entre trens e bicicletas, entre a Itália pós-guerra e o Brasil pós-golpe, o cinema na trilha dos corações paternos. 

Nenhum comentário: