No dia 17 de fevereiro de 1973 Pixinguinha veste o seu melhor e mais engomado terno de linho branco, e de sua casa, em Ramos, zona norte do Rio de Janeiro, segue para o batizado do filho de um grande amigo, na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Poucas horas antes de sair, recebeu a visita do compositor e produtor musical Hermínio Belo de Carvalho e do fotógrafo Walter Firmo.
Já se aproximando o final da cerimônia, logo após a criança receber a água benta, Pixinguinha afrouxa a gravata, passa o lenço na testa... começa a sentir-se mal. Em segundos cai, fulminado por um infarto, aos 75 anos.
A notícia se espalha rápido pelas ruas do bairro. Naquele momento, cai um temporal na capital carioca. Ao saberem do ocorrido, os componentes da Banda Ipanema, que estavam próximos da igreja, sob o comando do lendário Albino Pinheiro, continuam o desfile e tocam Carinhoso entre lágrimas e chuva. Era a estreia da Banda. E dessa forma foi abençoada pelo santo Pixinga num improvisado enredo de reverência. O coração de todos batendo triste, numa alegoria pelas ruas com as cores dos confetes molhados se desmanchando.
Na manhã seguinte o corpo do músico segue para o Cemitério de Inhaúma, onde estava sua esposa, falecida há um ano. Um cortejo carinhoso de choros naquela transversal manhã de um domingo sem carnaval.
Walter Firmo conta na biografia Pixinguinha: Vida e Obra, de Sergio Cabral (Editora Lidador, 1978), que sabia que o amigo não estava muito bem de saúde, com visíveis traços de decadência física. Autor da clássica foto de Pixinguinha, de 1967, sentado numa cadeira de balanço, debaixo de uma mangueira em sua casa, com o saxofone no colo, preferiu preservar a imagem do músico e não levou sua máquina naquela que seria sua última visita. Mas se arrepende ao lembrar o olhar de despedida de Pixinguinha na moldura da janela. A foto que não fez ficou gravada no “tato das retinas”, como diz o poeta Domingos Pereira Netto.
Ilustração: Elifas Andreato, capa do disco Pixinguinha - Dez anos sem ele (Gravadora Odeon, 1983).
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