quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

a voz das palavras


foto Edward Kaprov, 2015


Em 2007, o escritor, ativista e pacifista israelense Amós Oz escreveu a autobiografia Um conto de amor e trevas, onde 120 anos de memória de sua família, com suas dores, vitórias e paradoxos, alinham-se à turbulenta história de seu país.
Celebridades materializam-se em personagens autênticos, de David Ben-Gurion, um dos fundadores do estado de Israel, ao lendário líder das organizações clandestinas e primeiro-ministro Menahem Begin, passando pela grandeza da poesia hebraica moderna.
Amós Oz, homenageado na FLIP em 2007, foi um dos responsáveis pelo movimento Paz Agora, em que advogava pela solução de dois estados Israelense-Palestino. Faleceu em 28 de dezembro de 2018, aos 79 anos. Enfrentava outra luta, contra um câncer.
Mesmo acusado de “traidor” por Israel, Oz mantinha-se contra invadir territórios e bombardear civis em nome do que o país chama de “seu Deus”. Humanista, dizia que sua qualificação para discutir política era ter ouvido para palavras, e que “eu ergo minha voz e grito sempre para combater uma linguagem corrompida.”
Seus livros são apaixonantes, admiráveis, como A caixa preta, 1987, Pantera no porão, 1999, o último, de 2014, Judas, onde através do amor entre um jovem estudante e uma bela e misteriosa garota, questiona as guerras e a fundação de Israel.
A citada autobiografia possivelmente tenha a densidade mais definida e reflexiva de toda sua obra. A atriz Natalie Portman estreou na direção, em 2015, com o tocante De amor e trevas, baseado no livro. A diretora surpreende com a literalidade narrativa do compromisso de Amós Oz com as palavras, com a história.
Livro e filme traduzem bem o sobrenome que o escritor adotou (ao deixar o de batismo, Klausner): força e coragem, o significado de Oz em hebraico.

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