foto Indie Records
“...descobrir onde o mal nasce e destruir sua semente...”
Os versos de Cordilheira, de Paulo César Pinheiro, canção lamentavelmente cabível nestes tempos temerosos, foram musicados por Sueli Costa, por volta de 1977. A intenção era passar para Erasmo Carlos gravar, cantor e compositor que sempre esteve além das inocentes composições das jovens tardes de domingo, com discos primorosos onde faz incursões na black-music, no soul, no samba-rock.
Louvou as mulheres e as mulheres: de sua Narinha à Roberta Close, o doce grandalhão Erasmo achava um absurdo quando as chamavam de sexo frágil. Com a alma atarantada, o cantor atravessou umas barras pesadas, com o suicídio da ex-mulher (1995), a morte da mãe (2004) e do filho em acidente de moto (2014).
Sobre a composição Cordilheira, a censura proibiu à época, claro. Além da letra direta aos ditadores de plantão, tinha o lado comportamental do Tremendão que incomodava os militares, ao contrário do "ar de moço bom" do parceiro Roberto. Os autores foram à Brasília tentar a liberação e nem sequer foram recebidos pelos “zelosos guardadores” da moral e bons costumes impostos. Somente em 1979 a música foi liberada e gravada por Simone no disco Pedaços. A única gravação de Erasmo Carlos está na caixa Mesmo que seja eu, com quinze CDs comemorativos a sua carreira, lançada em 2002.
Erasmo se manteve autêntico, com boas letras, boas melodias, e sobreviveu ao natural apagão do iê-iê-iê, com bons discos nas décadas de 70 a 90, com um e outro não tão inspirados. Carlos, Erasmo, de 1971 é um álbum essencial, assim como Banda dos contentes, seis anos depois. São mais de 30 discos desde 1965, quando lançou o aparentemente ingênuo A pescaria, onde tem a famosa Festa de arromba e algumas versões de rock cinquentista, como de Chuck Berry. É desse LP a faixa Minha fama de mau, título também da autobiografia lançada em 2009 que Erasmo preferia dizer que é um livro memórias em que evoca histórias divertidas ao longo de sua carreira musical de 50 anos. Mesmo que o Tremendão, com sua cabeça de homem e coração de menino, tente não ir fundo nos relatos, sempre tem algo novo para se conhecer de sua trajetória, o seu olhar, o seu ponto de vista sobre pessoas e fatos.
Pelo menos ele teve a franqueza de conversar com os fãs através de um livro, dizendo a verdade com frases abertas, ao contrário do amigo de fé, de tantos caminhos e tantas jornadas, que mandou tocar fogo na sua biografia, Roberto Carlos em detalhes (Editora Planeta, 2006), escrita por Paulo César de Araújo.
E hoje, quando se comemora o Dia do Músico, Erasmo Carlos falece aos 81 anos. Ainda choramos Gal. E começamos a manhã de olhos marejados com a partida de Pablo Milanés. 2022, o ano em que vivemos entre o perigo e a esperança, pisa devagar.
Toca Raul! Toca Belchior! Toca Gal! Toca Erasmo! Para sempre! Tornamo-nos eternos no coração de que nos quer bem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário