sábado, 5 de novembro de 2022

a cachoeira que me banhou quando cresci

Em 1997, quando eu estava rodando o curta O último dia de sol, em Baturité, interior do Ceará, o rapaz que fazia o making of, estreando e entusiasmado na função de registrar os bastidores de uma filmagem, não deixava escapar nada.
No primeiro dia de trabalho, a equipe de produção foi fazer locação em algumas ruas da cidade e na região serrana. À noite, quando nos reunimos para ver as imagens, uns 80% das cenas eram de uma belíssima cachoeira.
Acho que ele quis traduzir, literalmente, a definição do mestre Humberto Mauro: "cinema é cachoeira".
Mauro, pastor de nosso cinema campesino, santo de todas as cachoeiras, faleceu na manhã de 5 de novembro de 1983. Afastado do cinema desde 1974, morava em seu sítio Rancho Alegre, na cidade natal Volta Grande, a 90 quilômetros de Cataguases, Minas Gerais, onde fundou a produtora Phebo Sul América, em 1925, dando início aos mais seminais filmes da cinematografia brasileira.
O cineasta tinha 86 anos. Abatido por uma forte pneumonia, estava praticamente cego quando faleceu. Mas ouvindo as cachoeiras. 

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