quarta-feira, 18 de setembro de 2019

na ciranda dos encontros

As noites e algumas tardes do fim de semana, alguns bares de Fortaleza são embalados pelo som analógico, mas orgânico, de LPs, sob a regência simpática e interativa de Alan Morais. São canções brasileiras e em todas as línguas em que a música se identifica pela qualidade, por uma época em nossa memória afetiva.
As abaeterças do Abaete Bt, Bolacha Mágica Music Bar, Embaixada da Cachaça, Cantinho do Frango, Serpentina Bar e Cultura, são alguns desses locais onde Alan Morais chega com sua pickup mesa de som e caixas de vinis para as apresentações, criando um ambiente de alegria – um sentimento de resistência neste e em todos os tempos sombrios.
Mais do que saudosismo, ou uma apressada rotulação do modismo “vintage”, Alan põe para tocar seus bolachões como reconhecimento de uma boa música que se torna atemporal por suas características. O mesmo faz nas noites fortalezenses o DJ Március Fish, em atuações empolgantes na Culinária da Van, além de outras frentes na capital, onde diversão e encontros associam-se a uma cultura de consistência em todas as gerações.
Alan Morais, além de um grande conhecedor de música, é o criador do Bloco Sanatório Geral, uma experiência bem-sucedida, no bairro Benfica, dos pré-carnavais, mostrando à cidade uma festa genuinamente momina, ao contrário de uma folia vazia e mercantilista dos “carnavais” uniformizados de abadás e música de qualidade extremamente equivocada, uma folia fora de época, lógica e afeto.
Lançado em 2007, o Sanatório Geral marcou não somente os ladrilhos históricos do bairro Gentilândia, também espalhou-se como um evento consistente no calendário festivo de Fortaleza, chegando a lançar dois discos, em 2007 e 2014, mais que proposital, naturalmente em formato de long-play, e o último também em CD, ambos com composições, vocais, direção musical e arranjos de Alan Morais.
O Sanatório Geral, como um bloco que abria o período de carnaval, manteve-se por recursos próprios, sem o apoio, reconhecimento e sensibilidade dos poderes gestores municipal e estadual. Sem condições de continuidade, o bloco não recolheu sua alegria, mas manteve o seu silêncio expressivo como um alerta, uma notificação aos que podem patrocinar e assegurar uma expressão cultural popular e não o fazem.
Somando-se às noites com seus vinis, Alan Morais é um excelente compositor, parceiro de vários autores da música e literatura, como Alexandre Lima Sousa, Silvio Gurjão, Ricardo Kelmer, Pantico Rocha, Eugênio Leandro, Moacir Bedê... É um sanatório que continua na geral com seus admiráveis loucos pela arte.
Em novembro próximo Alan Morais lança o EP Ciranda dos Encontros, um título adequado que grifa essa parceria em cinco faixas, uma travessia que, pela qualidade de suas composições, marca lugar na cena musical cearense.
Som nas caixas, DJ!

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