segunda-feira, 30 de setembro de 2019

conheço o meu lugar

Em 1984, o cantor e compositor Belchior foi convidado para o programa Som Brasil, da Rede Globo, exibido na última sexta-feira de cada mês.
Criado e apresentado por Rolando Boldrin, com o objetivo de divulgar para o país a importância da música regional brasileira, naquele ano até 1989, o programa passou a ser apresentado por Lima Duarte. Boldrin se desentendeu com a direção da emissora, por questão de horário, e o Som Brasil passou a inserir números com artistas urbanos, sem alterar na mistura as características originais.
Belchior tinha lançado no começo da década três LPs, Objeto direto (1980), Paraíso (1982) e Cenas do próximo capítulo (1984). Mas foi uma canção inédita que ele cantou que marcou sua apresentação: Princesa do meu lugar. De uma singular beleza poética campesina no vasto repertório do compositor cearense, nunca foi gravada em disco por ele.
Segundo o cantor e compositor Jorge Mello, seu parceiro e sócio na gravadora Paraíso Discos, em conversa recente comigo, disse que “há uma gravação de estúdio de Belchior dessa canção. Mas nunca foi publicada. Na realidade, tenho várias gravações de estúdio do Belchior em que ele interpreta canções que nunca foram aproveitadas em seus próprios álbuns. Eram sobras ou excessos de produção. Quando produzi álbuns meus e de outros artistas, sempre gravava nos estúdios uma ou duas canções a mais para ter opções na montagem final do álbum. Esse acesso era aproveitado em álbuns posteriores ou em compactos simples do artista ou ainda em álbuns de coletâneas. E algumas dessas gravações nunca foram aproveitadas. Então são sobras de produção.”
Em 1980, a cantora pernambucana Guadalupe lançou o seu LP de estreia, Princesa do meu lugar, pela RCA. A faixa-titulo no lado A é, até onde pesquisei, o primeiro registro em disco da composição de Belchior.
Divina Comédia Humana, ótimo disco de produção independente da cantora cearense Lúcia Menezes, de 1991, apresenta doze faixas, oito composições de Belchior e quatro de Raimundo Fagner. Dessa lista de músicas já tocadas nas rádios, a cantora incluiu a desconhecida canção do conterrâneo.
A terceira e quarta gravações são mais recentes, de 2017, em dois belíssimos álbuns tributos ao cantor: Amelinha em De primeira grandeza – As canções de Belchior, e a jovem cantora niteroiense Daíra, em seu disco Amar e mudar as coisas. Em entrevista no final do ano passado a Rolando Boldrin, no agora programa Sr. Brasil, da TV Cultura, a cantora disse que descobriu a canção justamente no antigo Som Brasil.
Hoje, dois anos e cinco meses que Belchior ficou encantado com uma nova invenção, a lembrança em vídeo do que em vinil não ficou.
Aos violões, Jorge Mello e Sérgio Żurawski.

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