domingo, 27 de agosto de 2017

assim descaminha a humanidade

Há 158 anos, numa tarde de 27 de agosto, o empresário norte-americano Edwin Laurentine Drake, conhecido como "Coronel Drake", fez jorrar o líquido negro das entranhas de 23 metros de profundidade. Ele construiu a primeira torre de petróleo do mundo, na região centro-atlântico da Pensilvânia, hoje um dos estados mais industrializados e urbanizados dos EUA.
Naqueles meados do século 19, o posteriormente chamado "ouro negro" era apenas um mero, mas bem-vindo, combustível para acender lamparinas. Não demorou muito, quase nada no tempo, para o precioso líquido ser destilado com mais precisão e produzir carburantes como querosene e etc e tal. O resto é história. Bem sabemos. E bebemos diariamente o óleo nosso de cada dia em que morremos. Até isopor é derivado de petróleo.

A cena abaixo é de Giant, de George Stevens, rodado em 1955, no Brasil adequadamente intitulado Assim caminha a humanidade.
Baseado em um romance pouco reconhecido de Edna Ferbes, o filme é ambientado no Texas, no começo dos anos 20, e narra a história de várias gerações de uma mesma família, tendo como pano de fundo as mudanças de um país com a descoberta e consolidação do tal “ouro negro”.
Costurado com a conflituosa relação amorosa entre três personagens, vividos por Elizabeth Taylor, Rock Hudson e James Dean, a narrativa consegue de forma magnífica mostrar a "involução" do ser humano em analogia com o que seria "evolução" e progresso com o advento do petróleo.
A produção, por outro lado, foi divulgada como um legado contra a intolerância racial, por pontuar essa contenda entre alguns personagens. Mas o filme – quando Hollywood fazia Cinema mesmo -, vai muito além disso.
Giant não trata somente das divergências raciais: avança na dissecação desse rebanho humano que segue nas relações amorosas, familiares, nas disputas econômicas, sem medir esforços e dispostos a desconhecer valores de grandeza do combustível que jorra do coração das pessoas.
Algo como cada um por si e Deus (ou o diabo) contra todos – parafraseando a frase de Mário de Andrade, usada em Macunaíma, e aproveitada como título original no filme de Werner Herzog, O enigma de Kaspar Hauser (Jeder für sich und Gott), 1974.
Assim caminha a humanidade, foi o último filme de James Dean. É a sua melhor atuação, entre os três em que trabalhou, Juventude transviada (Rebel without cause), de Nicholas Ray, e Vidas amargas (East of Eden), de Elia Kazan.
O belo, carismático e mítico ator faleceu aos 24 anos, quando Giant ainda estava sendo montado. James Dean não viu até que ponto a humanidade descaminhou.

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