foto Fábio Motta/AE
Eu queria ter ido a esse show: Caetano Veloso e Roberto Carlos juntos, homenageando Tom Jobim e os 50 anos da Bossa Nova, em encontro histórico no Teatro Municipal no Rio de Janeiro, sexta-feira passada, 23.
Mas ando muitíssimo decepcionado com o Rei, que despencou ladeira abaixo no meu conceito e admiração depois da burrada que fez, proibindo o livro de Paulo César de Araújo, "Roberto Carlos em detalhes", a mais completa - se não for a definitiva - biografia sobre o maior ídolo da música brasileira.
Impressionante como a mídia esqueceu completamente o assunto. Não se fala mais nisso. No ano passado muito se falou sobre esse livro que se transformou em um dos mais polêmicos da história do Brasil. Alguns artistas e colunistas comentaram a obra, como o próprio Caetano, o então ministro Gilberto Gil, a Xuxa-da-literatura e agora biografado Paulo Coelho, Zuenir Ventura, Carlos Heitor Cony, Elio Gaspari e Nelson Motta, todos defendendo o livro, indignados com a proibição imposta pelo biografado, o que dá a dimensão do absurdo do caso. Até mesmo o jurista Saulo Ramos, que foi advogado do Rei, definiu o trabalho de Paulo César, como uma "biografia perfeita".
O livro é uma obra-prima. Sou um leitor compulsivo de biografias. E de todas que li essa foi a mais completa, comovente e de incontestável qualidade literária. Apesar de ser uma biografia não autorizada, não há uma linha sequer que vulgarize fatos, calunie ou atinja a honra do personagem. Foram 15 anos de pesquisa, trabalho e paixão. Divididos em essenciais capítulos, o livro faz entender toda a complexidade do homem simples que se tornou o maior ídolo do país. E exatamente pelo valor da abordagem, "Roberto Carlos em detalhes" é um livro que passa pela história da música brasileira: o rádio, a bossa-nova, o rock, a televisão, e todos os nomes importantes que se entrelaçam nesses gêneros e ciclos.
Mas o Rei emburrou, literalmente. Embruteceu, empacou, amuou-se. Decaiu, retrocedeu, recrudesceu. Equivocado e mal assessorado, moveu ação judicial contra o escritor. Ganhou a causa, e em abril de 2007 a justiça mandou tirar o livro de circulação. Foi estampada nos jornais uma foto de um caminhão recolhendo as caixas com os exemplares que estavam no estoque na Editora Planeta. A cena é repulsiva. O caminhão seguiu para um depósito na cidade de Santo André, São Paulo. Dizem que o Rei mandou queimar os 11 mil exemplares. Porque ele é uma brasa, mora! Ou numa solução mais "leve", reciclados em toneladas de papel. Uma coisa ou outra, procuro agora um adjetivo maior que "repulsivo", que escrevi acima. É uma contradição para quem ao longo da carreira cantou o amor, a paz e a tolerância. Apesar de toda a repercussão negativa do episódio, o livro foi um best-seller no curto período nas livrarias, e virou raridade.
Graças à internet, está disponível em download em alguns blogues indignados. Isso o Rei não conseguiu impedir com sua atitude inquisitória.
Paulo César de Araújo disse que apesar do ocorrido não nutre ressentimentos pelo cantor, e crê que a questão passa pela legislação brasileira. Tudo bem, é muito nobre de sua parte, caro Paulo César, mas desde a sentença que não consigo escutar Roberto Carlos como antes. Fico com o livro. Mas queria ter ido ao show. Caetano bem que poderia ter aproveitado a proximidade nos ensaios e conversado sobre a importância do livro, já que ele se manifestou em elogios à epoca. Mas nem o amigo-de-fé-irmão-camarada Erasmo Carlos ousa tocar no assunto.
Fiz uma busca na internet atrás de uma foto para esta postagem, e me decidi por essa aí do ensaio. No show, aquele terno azul do Roberto é horroroso. Já basta ter que agüentar esse corte de cabelo dele em qualquer foto. Não dá.
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