Não é minha intenção fazer aqui um blog-obituário... mas não poderia passar em branco a morte de um dos maiores cineastas do mundo: Shohei Imamura. Eu estava em Fortaleza no festival de cinema quando soube de seu falecimento, no dia 30 do mês passado, vitimado pelo câncer, em Paris. Tinha 79 anos.
Imamura foi um dos poucos diretores a ganhar duas vezes a Palma de Ouro no Festival de Cannes. A primeira em 1983, com "A balada de Narayama" (Narayama Bushiko), possivelmente o filme onde melhor o cotidiano e a morte estão retratados, de forma bela, trágica, e poética. A história se passa em um povoado que sobrevive ao clima e à escassez de alimentos abandonando as pessoas com mais de 70 anos no monte Narayama.
O segundo prêmio foi em 1997, com "A enguia" (Unagi), filme que conta a vida de um ex-presidiário que tenta recomeçar a vida como barbeiro e uma jovem que aceita trabalhar para ele.
O humanismo, o inconformismo e uma análise profunda nos hábitos da cultura japonesa são características do cinema de Shohei Imamura. Mostrava em seus filmes as contradições da sociedade que mudava as tradições com o consumismo. Eu lamentava, mas entendia, a sua implicância com o cinema de Yasujiro Ozu, meu cineasta japonês preferido. Imamura criticava o compatriota, de quem foi assistente no início da carreira, por anular a expressão dos atores com seu estilo frio de direção. Não era bem assim, meu caro Shohei.
O último trabalho de Imamura foi a participação com um episódio no longa "11 de setembro" (11’09’’01 September 11), produção francesa sobre a visão de dez cineastas estrangeiros e um americano, Sean Penn, sobre os acontecimentos daquele 2001 nos Estados Unidos.
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