Na tarde de sábado de carnaval de 1973, 17 de fevereiro, Alfredo da Rocha Vianna Filho, o grande Pixinguinha, veste o seu melhor e mais engomado terno de linho branco, e de sua casa, em Ramos, zona norte do Rio de Janeiro, segue para o batizado do filho de um grande amigo, na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Poucas horas antes de sair, recebeu a visita do compositor e produtor musical Hermínio Belo de Carvalho e do fotógrafo Walter Firmo.
O músico estivera adoentado naqueles últimos dias. Firmo, autor da clássica foto de Pixinguinha sentado numa cadeira de balanço, debaixo de uma mangueira em sua casa, com o saxofone no colo, de 1967, levara a máquina para algumas imagens, mas notou que o amigo não estava nada bem, muito abatido fisicamente. Preferiu preservá-lo e guardou o equipamento.
Mesmo com essas limitações, Pixinguinha atravessa a cidade entre alguns foliões, sereno e contente com o seu compromisso. Já se aproximando o final da cerimônia, logo após a criança receber a água benta, Pixinguinha afrouxa a gravata, passa o lenço na testa... começa a sentir-se mal. Em segundos cai, fulminado por um infarto. Tinha 75 anos.
A notícia se espalha rápido pelas ruas do bairro. Naquele momento cai um temporal na capital carioca. Ao saberem do ocorrido, os componentes da Banda Ipanema, que estavam próximos da igreja, sob o comando do lendário Albino Pinheiro, continuam o desfile e tocam Carinhoso entre lágrimas e chuva. Era a estreia da Banda. E dessa forma foi abençoada pelo santo Pixinga num improvisado enredo de reverência. O coração de todos batendo triste, numa alegoria pelas ruas com as cores dos confetes molhados se desmanchando.
Na manhã seguinte o corpo do músico segue para o Cemitério de Inhaúma, onde estava sua esposa, falecida há um ano. Um cortejo carinhoso de choros naquela transversal manhã de um domingo sem carnaval.
Ilustração: Elifas Andreato, para capa do disco Pixinguinha - Dez anos sem ele (Odeon, 1983).
Nenhum comentário:
Postar um comentário