"Era uma tarde de fevereiro de 1949 e o jovem radioator Walter Forster matava o tempo jogando uma partida de peteca no pátio da Rádio Difusora de São Paulo, no alto do Sumaré, em companhia dos radialistas Cassiano Gabus Mendes e Dermival Costa Lima. (...) No meio jogo, a quadra improvisada é invadida por Assis Chateaubriand de terno preto de lã e chapéu gelot na cabeça, acompanhado de um grupo de homens, todos de paletó e gravata, trazendo nas mãos pedaços de papel, trenas e diagramas. Empurrando os jogadores de peteca com os ombros, Chateaubriand tira do bolso do paletó um pedaço de giz e vai riscando o chão e dando ordens em voz alta ao homem que estendia a trena sobre o cimento:
- Aqui vai ser o estúdio A. Agora espiche a trena para o lado de lá, ali vai ser o estúdio B. Veja se confere com o mapa.
Walter Forster se aproxima cautelosamente do patrão e pergunta:
- Mas, doutor Assis, o senhor está pretendendo acabar com nosso campinho de peteca?
Sem se levantar por completo, ele apenas ergue os olhos com desdém:
- Vocês vão jogar peteca no diabo que os carregue: aqui vão ser os estúdios da TV Tupi."
Trecho da biografia Chatô - O rei do Brasil, de Fernando Morais (Companhia das Letras, 1994).
Um ano e sete mês depois, em 18 de setembro de 1950, a Rede Tupi foi inaugurada. A primeira emissora de televisão do Brasil e a quarta do mundo.
A famosa logomarca, criada pelo desenhista, roteirista e produtor de diversos radioteatros, Mário Fanucchi (1927-2022), está na memória afetiva de várias gerações. Junto com o maestro Erlon Chaves (1933-1974), criou o jingle Já é hora de dormir, que encerrava a programação, patrocinada pelos Cobertores Parahyba, fábrica de tecelagem paulista. Em Fortaleza, a TV Ceará, repetidora da Tupi, as transmissões terminavam às 23h com Acalanto, de Dorival Caymmi, e nos adormecia.
Extinta em 1980, a Rede Tupi mudou a logomarca em 1972, quando a vinheta com simpático indiozinho tupiniquim saiu definitivamente das tribos urbanas.
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