sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

o coração de Olga Benário

“Eu gostaria que soubessem que cumpri duas tarefas: uma do Partido e outra do meu coração”.
Trecho final do discurso da alemã, de origem judaica, Olga Gutmann Benário, no encontro da Juventude Comunista Internacional, em Moscou, 1928, sobre sua ação ao comandar o resgate da prisão de seu namorado, Otto Braum, militante do PC. O auditório aplaudiu em pé aquela jovem corajosa de 20 anos.
Olga tem também sua vida marcante no Brasil pela atuação ao lado de Luís Carlos Prestes, líder do movimento que entraria para a história como Intentona Comunista, com quem casou ao vir para cá, em 1934, com a missão de dar segurança pessoal ao Cavaleiro da Esperança na guerrilha. Mais uma vez cumprindo as tarefas do Partido e do coração.
Após a insurreição, duramente reprimida pelo governo de Getúlio Vargas, Olga e Prestes passaram a viver na clandestinidade, e acabaram detidos em 1936. Na prisão, Olga descobriu que estava grávida. No mesmo ano foi deportada para a Alemanha nazista.
Recebida pela Gestapo, foi levada para a prisão feminina do Campo de Concentração de Barnimstrasse, onde teve sua filha Anita Leocádia Prestes (hoje historiadora aposentada, 86 anos), que ficou com a mãe na cela até o fim do período de amamentação, e depois entregue à avó, dona Leo Benário.
Olga foi executada em 23 de abril de 1942, aos 34 anos de idade, na câmara de gás com mais 199 prisioneiras, no campo de extermínio de Bernburg. "Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Até o último momento, manter-me-ei firme e com a vontade de viver. Beijo-os pela última vez", escreveu em sua carta de despedida, citada na biografia Olga, de Fernando Morais, (Editora Ômega,1985). Sarah Helm, escritora e jornalista inglesa, em seu volumoso livro Ravensbrück — A História do Campo de Concentração Nazistas Para Mulheres (Editora Record, 2015, com tradução de Cristina Cavalcanti), na página 859 questiona dizendo que “nos arquivos não há resquícios dessa carta e sua autenticidade é duvidosa”.
Em 2008, por ocasião do centenário de seu nascimento, a Alemanha a homenageou, inaugurando uma ‘pedra de tropeço’ em frente ao último endereço em que ela viveu em Berlim, no bairro de Neukölln.
‘Pedras de tropeço’ são pequenas placas de latão fixadas nas calçadas dos locais onde moraram vítimas das atrocidades nazistas. Nelas estão escritos o nome, data de nascimento e de deportação e uma referência ao que aconteceu. Em toda Europa são encontradas mais de 13 mil placas semelhantes.
Hoje, 27 de janeiro, é celebrado o Dia Mundial da Lembrança do Holocausto, instituído pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em homenagem aos seis milhões de judeus e às outras vítimas da crueldade nazista. A data é uma alusão ao dia em que as tropas soviéticas libertaram o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, na Polônia.
No contexto mundial alarmante da extrema-direita, do antissemitismo, da proliferação assustadora de grupos nazifascistas, das tentativas de governos conservadores de reescrever a história e distorcer os fatos, da intolerância e ódio espalhados pela Internet, das teorias absurdas de negacionistas, criacionistas, delirantes neopentecostais, a data de hoje é para lembrar que todos os dias são para lembrar.
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Na foto, Olga Benário aos 20 anos.
Acervo Anita Leocádia Prestes / RJ, Arqshoah / Leer-USP

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