terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Glauber, o gênio visionário

 

“Vamos dar um golpe, virar a mesa, fazer história. Se houver eleições, Vieira ganha. Se não houver, ganho eu”,
diz o líder conservador Porfírio Diaz a Júlio Fuentes, dono dos principais veículos de comunicação da República de Eldorado – fictícia ilha tropical em meio a embates políticos - sobre a candidatura de um vereador populista.

A cena é de Terra em transe, de Glauber Rocha, 1967, um ano antes da decretação do AI-5, o golpe dentro golpe durante a ditadura militar.
O filme é uma alegórica distopia político-carnavalesca, uma explosiva parábola do Brasil naquele período dos anos 60.
Premiado nos festivais de Havana, Cannes e Locarno, Suíça, foi proibido pela censura fascista de Salazar em Portugal. No Brasil, interditado em todo o território, considerado subversivo e irreverente com a Igreja e só liberado com a condição de que fosse dado um nome ao padre interpretado por Jofre Soares.
O personagem Porfirio Diaz, magnificamente interpretado por Paulo Autran, é uma alusão ao ditador que governou o México de 1884 a 1901.
Além do elenco com Jardel Filho, Glauce Rocha, Paulo Gracindo, José Lewgoy, Paulo Cesar Pereio, Mario Lago, Darlene Glória, Zózimo Bulbul, a equipe desse clássico da cinematografia brasileira foi integrada por Dib Lufti e Luiz Carlos Barreto na direção de fotografia, trilha sonora de Sérgio Ricardo, montagem de Eduardo Escorel, produção de Barreto, Glauber, Cacá Diegues, Zelito Vianna e Raimundo Wanderley.
O cineasta Martin Scorsese, que ajudou na restauração de Terra em transe, declarou em uma entrevista à revista Cahiers du Cinéma, em 1996, que “o filme leva o espectador ao esgotamento, tão intenso e implacável é a sua confusão de sons e imagens. Até hoje nunca vi nada igual!”.

A visão da genialidade de Glauber coloca os personagens Porfirio Diaz e Júlio Fuentes na simetria do tempo do Brasil República Eldorado dos últimos anos.

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