quarta-feira, 16 de outubro de 2019

inéditos de Kafka

Quando Franz Kafka morreu, em 1928, aos 41 anos, seu amigo e também escritor Max Brod, tornou-se seu biógrafo e testamenteiro. Organizou e publicou muitos de seus escritos, entre eles Amerika e Narrativas do espólio. É dele Franz Kafka, a biografia, publicada em 1934 e reeditada quarenta anos depois.
Poucos, pouquíssimos conheceram tão bem o escritor tcheco quanto Max Brod. Há quem o considere um canalha traidor, porque Kafka o pediu, no leito de morte, que queimasse seus papéis pessoais e obras incompletas, por considerar sem muita qualidade.
Max Brod prometeu mas não cumpriu. E a "traição" trouxe à Literatura obras como O processo e O castelo. Obras que muitas vezes foram lidas, nos originais, pelo autor ao amigo e alguns poucos mais chegados. Kafka era de uma timidez patológica, e Max Brod não descansou enquanto não publicou os inéditos e lhe dedicou uma biografia.
Max Brod morreu 40 anos depois de Kafka, no final de 1968, em Tel Aviv, Israel, onde morava.
Com ele ficaram mais de 40 volumes com documentos, cartões postais e objetos pessoais do escritor. Relíquias que não foram levadas a público, e que continuaram em segredo nas mãos da secretária de Brod, Esther Hoffe.
Essa senhora faleceu em 2007, aos 101 anos de idade, lá mesmo em Israel. Foram outros cabalísticos 40 anos após a morte do patrão.
Estudiosos de Kafka temiam pelo estado físico desse tesouro. Esther Hoffe morava em um apartamento úmido, mal cuidado, ao lado de cachorros, gatos, e quem sabe, baratas kafkanianas. Nada mais irônico.
O patrimônio literário ficou sob responsabilidade da filha, Eva Hoffe, que faleceu ano passado, aos 85, e agora a National Library of Israel é guardiã dessa raridade, sobrevivida aos processos de metamorfoses.
Acima, Jeremy Irons em Kafka, de Steven Soderbergh, 1991

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