No final dos anos 60 ator e diretor Jerry Lewis entrou num período depressivo vendo a fraca repercussão de seus filmes. Ausentou-se dos sets e foi dar aulas de direção em uma universidade em Los Angeles. Um de seus alunos era um jovem de 22 anos chamado Steven Allan Spielberg, que lhe apresentou ao término do curso, em 1968, seu primeiro filme, o curta-metragem Amblin. O professor ficou aloprado com o que viu, a maestria narrativa do pupilo ao contar a história de um casal de jovens que se encontra no mais árido e hostil deserto da América, o Monjave. E mais: ficou fascinado com a preciosidade da produção sob a coordenação de outro aluno, um garotão esperto de 24 anos, George Walton Lucas Jr.
Inspirado pela garra e tenacidade daqueles garotos, quando decidiu voltar a fazer filmes, Jerry fixou-se na ideia de realizar algo diferente, uma comédia dramática... Nada de caretas e pastelão. Caiu-lhe nas mãos um argumento, The day the clown cried, de dois roteiristas desconhecidos. O ator leu, e topou dirigir e interpretar o papel principal. Rodado na França em 1972, o filme (foto acima) nunca foi exibido, envolvido em polêmica logo após as filmagens, e guardado a sete chaves pelo próprio Lewis.
A história é no mínimo extremamente delicada: durante a Alemanha nazista um palhaço bêbado num bar tira onda com o Führer Adolf Hitler, imitando-o com deboche. Os brutamontes da Gestapo sabem e o prendem, mandando-o para um campo de concentração em Auschwitz. Vendo o palhaço brincar com as crianças judias, os soldados o obrigam a divertir os pequenos em seus caminhos até as câmaras de gás, prometendo-lhe liberdade.
Ao ver a fumaça branca das chaminés e o silêncio das crianças que riam há poucos minutos de suas brincadeiras, o palhaço desaba em remorso e não se perdoa. Jerry Lewis também não se perdoou pelo filme que dirigiu e interpretou. Na biografia Dean & Me - A love story, que o ator lançou em 2005, confessa seu arrependimento, "é mau, mau, mau. Podia ter sido poderoso, mas escorreguei".
A única cópia do filme foi entregue por Jerry Lewis à Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, com o acordo de ser exibido somente em 2025, na véspera de um século do seu nascimento.
O ator faleceu há um ano, numa manhã de agosto, aos 91.
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