quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

o compositor do tempo

“Sou muito feliz, porque o dia de amanhã passou ontem lá em casa, e me falou que eu esqueci de colocar o futuro na geladeira e ficou passado. E a última vez que eu me vi foi ontem, mas eu fiquei presente esperando o passado passar pra me dizer boa noite”.
A reflexão no tempo é de José Ramos Santos, compositor conhecido como Zeca Bahia, publicada em uma entrevista no jornal Gazeta do Oete, há quatro anos. É autor de várias pérolas do cancioneiro popular brasileiro, como Porto solidão, parceria com Antonio Ginco, eternizada pela interpretação de Jessé em 1980, primeiro lugar no Festival MPB Shell, e Ave coração, com Clodo Ferreira, gravada por Fagner no disco Beleza, 1979.

Zeca se foi ontem para outros portos, por insuficiência renal aguda, deixando mais solidão no cenário de compositores talentosos de nossa música. Tinha 67 anos, e há tempos morava em sua terra natal, Bom Jesus da Lapa, a uns 700 km da Salvador. Era servidor da prefeitura, e com bom humor dizia que não era rico nem pobre, que a música com Jessé lhe deu “aposentadoria eterna”.
Separado, o compositor morava com dois cachorros, em um pequeno sobrado, onde recebia os amigos criando um ambiente de criação, debates e celebrações.
Além do emprego municipal, Zeca dividia, ou melhor, compartilhava seu tempo, com visita aos filhos, eventuais shows e muita boemia pelos bares de sua Lapa.
O passado, o presente e o futuro lhe dão boa noite e bom dia, Zeca.

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