Li uma vez uma entrevista com Woody Allen em
que dizia que para "esquecer" o medo que tem da morte, ele trabalha,
trabalha, trabalha. Não deixa tempo para pensar em outra coisa. Acredita
o cineasta que a mente ocupada com uma responsabilidade,
uma tarefa, consegue não lembrar que pode morrer a qualquer momento.
Não é à toa que o novaiorquino Allen faz um filme seguido de outro.
Acredito que quando acaba de montar um, já está envolvido em novo
projeto. Sabe-se que no orçamento de seus filmes está incluído o mesmo
valor de produção para realizar o mesmo filme outra vez (logo!), se o
que acabou de rodar não lhe agradar em nada. Se isso é verdade ou não,
pelo menos faz parte da logística para driblar sua necrofobia.
Woody está prenhe de razão. A "indesejada das gentes", como diria
Bandeira, é inevitável, infalível, pontual, certeira. Ela vem. Ficar
"sentado no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de
dentes esperando a morte chegar", como recusou Raulzito, é desperdício
de tempo presente e não vai adiar a dita cuja. Ela vem. A vida deve ser
isso mesmo, esse intervalo entre os dois partos.
Já há um bom
tempo, bem antes da entrevista do Woody Allen, essas inquietações me
trouxeram o poema "Armadura", que está no livro "Poesia provisória", que
trabalho trabalho trabalho para lançar em breve.
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