sábado, 15 de setembro de 2012

match point

Li uma vez uma entrevista com Woody Allen em que dizia que para "esquecer" o medo que tem da morte, ele trabalha, trabalha, trabalha. Não deixa tempo para pensar em outra coisa. Acredita o cineasta que a mente ocupada com uma responsabilidade, uma tarefa, consegue não lembrar que pode morrer a qualquer momento. Não é à toa que o novaiorquino Allen faz um filme seguido de outro. Acredito que quando acaba de montar um, já está envolvido em novo projeto. Sabe-se que no orçamento de seus filmes está incluído o mesmo valor de produção para realizar o mesmo filme outra vez (logo!), se o que acabou de rodar não lhe agradar em nada. Se isso é verdade ou não, pelo menos faz parte da logística para driblar sua necrofobia.

Woody está prenhe de razão. A "indesejada das gentes", como diria Bandeira, é inevitável, infalível, pontual, certeira. Ela vem. Ficar "sentado no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar", como recusou Raulzito, é desperdício de tempo presente e não vai adiar a dita cuja. Ela vem. A vida deve ser isso mesmo, esse intervalo entre os dois partos.

Já há um bom tempo, bem antes da entrevista do Woody Allen, essas inquietações me trouxeram o poema "Armadura", que está no livro "Poesia provisória", que trabalho trabalho trabalho para lançar em breve.
 

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