
"Um filme não precisa ser entendido, basta que seja sentido".
A frase é do italiano Michelangelo Antonioni, chamado de o cineasta da incomunicabilidade. Prefiro considerá-lo o poeta da angústia. Ou mesmo da modernidade, como bem dizia o seu compatriota Walter Veltroni, um dos mais apurados críticos de cinema, outra espécie em extinção, infelizmente.
Antonioni não segurou a solidão neste mundo cheio de poucos bons cineastas e seguiu atrás de Ingmar Bergman, falecido em julho do ano passado. Tinha 94 anos e morreu numa segunda-feira à noite, na tranquilidade de sua casa, sentado numa poltrona, ao lado da esposa Enrica Fico, como numa cena dirigida por ele.
É difícil escolher somente um ou dois filmes bons desses mestres que se vão e deixam o cinema órfão.
Antonioni dizia que se esforçava em exigir do ator o seu instinto mais do que seu cérebro. É exatamente isso que sentimos ao adentrar na tela quando assistimos "A noite" (La notte), de 1960, "O eclipse" (L'Eclisse), de 61, ou "O deserto vermelho" (Il deserto rosso), de 64. Ou ainda o clássico "Blow-up", de 67, ou a viagem psicodélica de "Zabriskie point", no sintomático ano de 1969. Ou ainda "O passageiro - Profissão: repórter" (The passenger), 1975, um dos pouquíssimos filmes em que Jack Nicholson não faz o papel de Jack Nicholson.
O cinema de Antonioni é marcado pela obsessão da imagem e a busca de uma linguagem formal e estética, com cenas longas e lentas, o que servia para indagar o interior de suas personagens, num espaço enigmático. Comunicava-se com sua câmera com a incomunicabilidade desses personagens.
Um comentário:
sentido,faz todo sentido....
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