Acima, a sequência final do filme Ladrões de bicicleta (Ladri di biciclette), de Vittorio De Sica, 1948: na Roma pós-guerra, cansado de procurar por sua bicicleta roubada, o desempregado Antonio Ricci decide furtar uma em frente a um estádio.
A câmera ali centralizada na aflição do pai, sob o olhar confuso, triste e complacente do filho Bruno.
Em Ladri, o garoto, ao mesmo tempo que está perdido, contorna situações através de seu ponto de vista e de sua sensibilidade de criança observadora. O personagem é o fio condutor do filme, sua ligação com o pai é o que enlaça a construção narrativa. O mesmo fez Pietro Germi em O ferroviário (Il ferroviere), de 1956. O diretor, ao centralizar toda dramaticidade na relação do pai maquinista com o filho que vai sempre esperá-lo na estação, declaradamente, nessa intertextualidade afetiva, homenageou o pequeno ator Enzo Staiola por sua atuação no filme de De Sica.
E eu, ao estrear no mundo como pai, dei ao meu filho o nome Enzo, em referência e reverência.
De forma invertida, no olhar contre-plongée do filho, uma homenagem também ao ator Lamberto Maggiorani, que lembra muito meu pai, pelo rosto esculpido de operário, o paletó roto e as mãos dadas. Meu filho olha para mim, que olho para meu pai.
Entre trens e bicicletas, entre a Itália pós-guerra e o Brasil pós-golpe, o cinema na trilha dos corações.
O ator Enzo Staiola partiu quarta-feira, 4, aos 85 anos.
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