terça-feira, 13 de maio de 2025

os tempos e a forma do poeta


 A fascinante poesia do piauiense Adriano Lobão Aragão.

Sua escrita sem pontuação corre peito a dentro de quem lê, no mais longo, suave e ondulante fôlego que a boa poética germina a cada página.
um domínio admirável nos versos fincados em aliterações de vogais, consoantes, sílabas, palavras.
Na construção, estrutura e olhar, uma elegante referência e reverência ao antropocentrismo do universo camoniano.
Também fotógrafo no exercício e na essência, os poemas de Adriano desenham imagens e sons nos tatos de nossas retinas.
No poema abaixo, ouvimos o mar e chegamos à praia. Na repetição dos versos sentimos o vai e vem da água molhando os pés. Uma preciosidade de poesia da língua portuguesa.
Os tempos e a forma (Editora dEsEnrEdoS, Teresina, 2017) é uma antologia pessoal que reúne num único volume cinco livros lançados de 1999 a 2017, além de poemas dispersos publicados entre 1997 e 1998.
Parafraseando um de seus belos versos, sua poesia na água escrita inunda o instante.
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o mar a praia
vento e água procuram a praia em sucessivos enlaces
ondulando sua dança entre espuma e sal se esvai a água
dispersa na areia mas guardada em música sua concha
enlaçada em dança se esvai a vaga alagando a praia
e alastrando-se pela areia dispersa espuma e sal
beija sua orla e recua somente para retornar
sua dança novamente à praia novamente ao mar
movendo-se apenas dentro de si estático abalo
reencontrando assim seu início e fim no mesmo lugar
água e vento dispersando o tempo entre espuma e sal
abrindo caminho sem volta teimando em retornar

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