quinta-feira, 1 de maio de 2025

1º de maio

 


Na abertura do filme 1900 (Novecento), de Bernardo Bertolucci, 1976, o enquadramento em primeiro plano mostra o rosto de um homem de barba, chapéu, com a mão direita no ombro carregando um paletó surrado.
Sob a condução da melodia operística de Ennio Morricone, lentamente a imagem se abre e revela um grupo de trabalhadores. São rostos ao mesmo instante do nosso olhar, pétreos e anímicos. Bem à frente, em postura determinada e de liderança, dois homens ao lado de uma mulher com um bebê a tiracolo.
A massa de operários tem um forte sentido de coletividade. Conversam, gesticulam, caminham juntos na mesma direção.
Ao final de 4 minutos do zoom out, a moldura de uma das mais belas e fortes criações da história das artes plásticas: Il Quarto Stato, pintura a óleo sobre tela do pintor italiano Giuseppe Pellizza da Volpedo, que viveu apenas 38 anos.
Bertolucci foi extremamente certeiro e sensível na escolha dessa abertura imagética para contar, em narrativa epopeica, a luta de classes na Itália do século XX pelos olhos de dois amigos de infância em lados opostos, ambientada no início de 1900 até o final da Segunda Guerra, em 1945. É como se o quadro de Giuseppe continuasse e se desenvolvesse ao longo das 5 horas e 16 minutos do filme.
A personificação das posturas ideológicas na história tem sintonia com a vida, pensamento e motivações do pintor neoimpressionista. Ele passou três anos criando a tela, de 1890 a 1892. Sua intenção era apresentar a obra numa exposição em Paris, em 1900, a significativa virada do século. Giuseppe tinha claras ideias socialistas, vivia em permanente contato com os trabalhadores da cidade e do campo na pequena Volpedo, uma comuna ao norte do país.
Inicialmente batizou a obra de O caminho dos trabalhadores, uma espécie de manifesto pictórico da classe operária entrando convicta e destemida no novo século. O quadro não seguiu para Paris como queria, foi exposto pela primeira vez na Mostra Quadrienal de Turim, em 1902, com o novo nome, em alusão aos desdobramentos da Revolução Francesa, que derrubou o poder de dois Estados, a nobreza e o clero, instalando-se a burguesia.
Giuzeppe acreditava no proletariado como o Quarto Estado.
O quadro encontra-se no Museo del Novecento, Milão.

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