A mergulhadora e cineasta francesa Julie Gautier dança por seis minutos e 30 segundos a 40 metros de profundidade numa piscina, no curta-metragem Ama (“mulher do mar”, em japonês), filmado por Jacques Ballard, lançado em 2018 em festivais na Europa.
Julie com seu trabalho homenageia quem a inspirou: as mulheres que seguindo uma prática milenar no Japão, coletam pérolas e conchas no oceano, sem equipamento de mergulho.
A música é do compositor italiano Ezio Bosso, trecho inicial da faixa de 11 minutos, Rain, in your black eyes”, gravada no disco And the things that remain, de 2016.
A vida e morte de Bosso, aos 48 anos, em 2020, por uma doença neurodegenerativa, que o fez perder o controle de dois dedos e, portanto, não conseguia mais tocar como antes, é outro mergulho comovente na história de um artista e sua genialidade. Foi um dos maiores compositores da música erudita contemporânea. Vê-lo tocar, mesmo com as limitações físicas, era impactante. Performático, como um maestro sentado ao piano, com seu corpo sobre o instrumento, numa união orgânica e anímica.
Sempre que revejo esse curta de Gautier e Ballard, considero uma afetuosa homenagem ao legado de Ezio Bosso, mesmo filmado dois anos antes de sua partida, quando se agarrava na mais profunda luta contra a doença.
Ama: a dança da câmera como uma concha, a coreografia como pérolas flutuando, a música de Ezio Bosso como imagem, imantam e banham o silêncio da alma de quem assiste.
Nenhum comentário:
Postar um comentário