quinta-feira, 30 de junho de 2022

coreografia da alma

A bailarina e coreógrafa alemã Pina Bausch partiu para outros palcos em 2009, 30 de junho. Dois anos depois o cineasta Wim Wenders lançou uma merecida homenagem, o documentário Pina. Duas horas de fascinação na tela.


O filme estava sendo rodado quando a bailarina foi diagnosticada com câncer. O cineasta tocado pela partida repentina, continuou o documentário de forma ainda mais belamente surpreendente: manteve muitas das imagens da coreógrafa enquanto novas cenas são captadas, em espetáculos, entrevistas, silêncios...
Para dar essa composição sensorial, Wenders filmou em 3D, e assim reproduz uma sublime sensação de imaterialidade, como se a bailarina continuasse com sua presença no mesmo instante, em diálogo coreográfico de uma dimensão palpável com o abstrato, do tablado com o metafísico, do sonho dentro da realidade. Nunca no cinema o recurso tecnológico da tridimensionalidade foi tão bem usado, ao contrário do que se vê em algumas produções hollywoodianas.
Pina é um dos mais criativos documentários do cinema moderno, assim também como fez a cineasta belga Chantal Akerman em 1983, com Un jour Pina m'a demande, registro de viés conceitual de uma turnê da companhia da bailarina pela Europa, produzido para televisão.
Da mesma maneira como a dança desenha e esculpe no espaço a respiração da alma, Wim Wenders consegue consubstanciar o onírico em seu filme. E quando se trata de Pina Bausch a proporção do olhar reverbera infinitamente.

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