segunda-feira, 8 de novembro de 2021

cartas entre irmãos

 

Durante o período de 1873 a 1890 o pintor Vincent van Gogh escreveu quase 600 cartas para seu irmão mais novo, Theo van Gogh, um próspero comerciante de arte, com quem compartilhava suas instabilidades emocionais e dele recebia ajuda financeira.

Van Gogh guardou poucas das cartas que recebia, mas o irmão conservou todas. Graças a isso, logo após a morte de Theo, a viúva Johanna van Gogh-Bonger, professora e igualmente comerciante de arte, tratou de publicar algumas dessas correspondências e negociar os quadros do cunhado pela Europa. Ambos faleceram muito próximo, Vincent em 1890, Theo um ano depois.
A obra missivista é uma preciosidade para se conhecer o homem atormentado que foi o pintor. Van Gogh disserta sobre o processo de criação, o seu confronto com os costumes da sociedade burguesa, a sua consciência de se impor como artista e até mesmo – e a expressão substantiva aqui pode parecer contraditória - a lucidez em reconhecer sua loucura, sua crescente perplexidade e agonia diante da vida.
Até por volta de 1914 mais duas publicações foram lançadas, sempre com mais relevantes cartas. Além de Theo, van Gogh escreveu para sua irmã Wil, para o crítico de arte Albert Aurier e para vários pintores, entre eles, Paul Gauguin, com quem teve uma relação difícil, os dois, mesmo identificados no pós-impressionismo, discutiam muito sobre conceitos e formas de concepção artística, e suas teorias eram sempre incompatíveis.
As várias edições com as cartas, lançadas e relançadas ao longo desses anos, seguem as que foram traduzidas e organizadas na década de 30 pelo francês Georges Philippart.
As naturezas-mortas com garrafas de absinto, as florações de um pomar de ameixa, as cortesãs e as velhas camponesas, a solidão dos terraços dos cafés à noite, os velhos tristes no portão da eternidade, os comedores de batata, as cadeiras na sala e o pequeno quarto de dormir, os telhados sobre Haia, o pátio do hospital em Arles, os barcos pesqueiros e o velho moinho, a alma nos autorretratos, a angústia cinza de seus pinceis e a luz amarela de seus girassóis estão nessas cartas tanto quanto em seus quadros.

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