Ibope mínimo, inteligência máxima
Há uma lenda sobre a tevê. Dizem que, quando foi inventada, os cientistas vibraram com o sucesso de sua criação, mas logo descobriram que não sabiam o que fazer com ela. Na falta do que exibir, passaram a transmitir concertos, notícias e peças de teatro. Em seguida vieram os programas de auditório e as telenovelas, que continuam no ar até hoje. Arte com Sergio Britto, que a TV Brasil exibe às terças-feiras, às 22h, dá outro sentido à radiodifusão. Só conquista um solitário ponto no Ibope. Mas não abre qualquer espaço à vulgaridade, ao popularesco, à exploração da desgraça e da intimidade alheia que ocupam grande parte das emissoras de tevê. Mesmo dentro de um canal estatal, cuja sobrevivência dos programas não depende — em princípio — do número de espectadores, sua presença é notável pela inteligência e pelo apuro na escolha do que é e do que não é apresentado.
Sergio Britto não transmite notícias. Indica sentido, oferece interpretação. Nada é simplesmente mostrado, como acontece na maioria dos noticiários, mas refletido por um ator e diretor de 85 anos que observa o mundo da arte com ponderação e generosidade. É um programa que não faz concessões. Com ele pode-se saber como é uma peça de Büchner, um livro de Tomasz Lychowski, uma música do Quinteto Violado, um solo de Guinga ou uma montagem da Companhia do Pequeno Gesto. O apresentador não está preocupado se quem assiste ao programa sabe quem são esses grupos e artistas. Se não, melhor ainda, porque vai conhecer.
Arte com Sergio Britto ainda tem a vantagem de estar de olho em tudo que está em cartaz no momento, como os filmes "Café dos maestros" e "Milk", por exemplo, vistos e comentados com profundidade que explicita a rasura dos telejornais convencionais, nos quais a notícia se sobrepõe à reflexão. Ainda mais antiga que a tevê, há uma ideia de que certos assuntos devem ser simplificados para que a população em geral possa compreendê-los. O que é apenas elitismo disfarçado de democrática boa vontade. Certas coisas são irredutíveis e precisam ser exibidas em sua integridade. No alto de seu pontinho no Ibope, Sergio Britto insiste com elas.
Texto de Mauro Trindade, da TV Press.
2 comentários:
já vi esse programa umas vezes, é muito bom mesmo
Caro Zeus, você faz parte do Ibope mínimo, inteligência máxima.
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