
No último dia 27 foi publicado nO Globo um artigo do sociólogo Carlos Sávio Teixeira comentando o livro do jornalista Oscar Pilagallo, "Roberto Carlos", feito para a série Folha Explica da Folha de São Paulo. Assim como a obra de Paulo César de Araújo, "Roberto Carlos em detalhes", lançada em 2006 e cruelmente retirada das livrarias, é uma biografia não autorizada.
Mas o rei, segundo o artigo, não foi à Justiça pedindo a proibição do livro. Parece que o bom senso está tomando o lugar de sua estupidez.
À época do imbróglio do livro de Paulo César, Roberto Carlos argumentou que teria se incomodado com a invasão de sua privacidade, mas não apontava o quê. Dizem que sequer leu uma página, e tudo que chegou a ele foi através de assessores. É possível. Roberto Carlos não é muito chegado à leitura, principalmente se acha que "falam mal" dele.
O autor da biografia proibida, num gesto até de muita nobreza, se dispôs a retirar o que tanto incomodava ao rei. Não adiantou. O rei fincou pé em detalhes tão pequenos e milhares de exemplares foram confiscados da Editora Planeta e levados para um galpão em São Paulo. Há boatos da Candinha que o rei mandou tocar fogo, bem ao lema da Jovem Guarda, de que ele é uma "brasa, mora!", mandando tudo pro inferno!
O que deixa Roberto Carlos realmente incomodado é a citação do acidente que sofreu aos seis anos de idade, quando teve parte da perna direita esmagada pela roda de um trem, num dia de festa na sua Cachoeiro de Itapemirim. A família Braga não tinha dinheiro para uma prótese, e Roberto passou sua infância e adolescência andando de muletas.
Não li ainda o livro de Oscar Pilagalho, sei que há um capítulo, "Traumas", sobre o acontecimento. Na obra de Paulo César isso é narrado de uma maneira detalhada e respeitosa, assim como todo o livro se caracteriza pelo cuidado. Sou um leitor compulsivo de biografias, e essa é uma das melhores que já li. Ao retratar a vida do maior ídolo da nossa música, Paulo César faz um painel histórico rico em informações da própria música popular brasileira, fruto de quinze anos de pesquisa, além de uma admiração confessa pelo cantor. O capítulo que abre o livro é de uma beleza comovente, relatando a frustração de Paulo César menino quando não conseguiu assistir a um show do cantor em Vitória da Conquista.
Espera-se que o bom senso tenha efeito retroativo e o livro volte às pratelereiras.