domingo, 1 de outubro de 2006

o estranho que nós amamos


Para falar de filmes que estão em cartaz há bastante espaço no internet, nos jornais, nas revistas, e até nos outdoors. De vez em quando recorrerei a uma sessão, digamos, “os esquecidos”, para lembrar de filmes que foram mal lançados, mal distribuídos, e mal compreendidos pela “crítica especializada”, mas nem por isso execrável, condenável à vala comum.
Um desses filmes é o brasileiro “Querido estranho”, disponível em dvd, possivelmente em um cantinho na locadora, somente com uma cópia. Dirigido por Ricardo Silva e Pinto, o filme é uma pequena obra-prima. Pequena pela simplicidade sincera da produção, não pela construção cinematográfica, esta elevada e pomposa no mergulho de cabeça nos sentimentos humanos. A partir do peça “Intensa magia”, de 1996, escrita por Maria Adelaide Amaral, o roteiro de José Carvalho expõe o relacionamento conflituoso de uma família de classe média , centrada na figura ácida do patriarca, magnificamente vivido por Daniel Filho. Toda a ação se passa no dia do seu aniversário, quando os parentes chegam para comemorar a data, e ele, Alberto, expõe todos os problemas e feridas que unem e desunem cada um deles, sem poupar palavras cruéis e humor ferino. Do texto teatral à transposição para a tela é inegável um jeito meio nelsonrodrigueano na essência, pela força e escracho dos personagens e o núcleo doméstico onde eles se manifestam.
A dissecação na alma, sem meios-termos ou tratamento ambíguo, é o que nos atrai e incomoda. Rejeitando ou admirando, podemos nos espelhar em algumas brechas da situação que presenciamos. Impossível ficar impassível. O cinema nesse momento consegue um dos seus objetivos como arte: retratar o ser humano e refletir sobre nossas grandiosidades e podridões.
Produzido em 2002, rodado em tempo recorde de 24 dias, o filme é o segundo longa na carreira do paulista Ricardo. O primeiro foi a comédia “Sua excelência, o candidato”, em 1990. Ele é um dos mais requisitados assistentes de direção no cinema brasileiro, além de trabalhar como diretor de produção e produtor executivo em mais de vinte filmes. Dirigiu os curtas “Zabumba” (84) e “Adultério” (88). Ainda neste ano será lançada sua biografia, escrita por Rodrigo Capella, dentro da Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial de São Paulo.
Daniel Filho na frente das câmeras revela-se um grande ator. São marcantes suas atuações em “Romance da empregada” (1987), de Bruno Barreto e “Tieta do agreste” (1997), de Cacá Diegues. Em “Querido estranho” ele rouba todas as cenas, embora não se desclassifique as interpretações de Suely Franco, Ana Beatriz Nogueira, Cláudia Netto, Mário Schoemberge e Emílio de Mello, este premiado como melhor ator coadjuvante no Festival de Gramado de 2002.

Um comentário:

Anônimo disse...

Citaria tb o filme amnericano " a jurada" com Demi More, acho que foi abordado ali um certo contexto de corrupção que há dentro do Judiciário que na maioria das vezes sofrem pressão para abosolver ou condenar...no Brasil um dos únicos filmes que mostra a realidade aproximada foi carandiru mas no caso do presidio, acho que nos moldes do ' a jurada' deveria ser fetio um filme mostrando a realidade do judiciário brasileiro influenciado tb pela corrupção e no caso não plo narcotráfico mas por grandes grupos empresário e a força do poder econômico bem como pela pistolagem...o filme" ajurada" do Brasil foi o fiel retrato do que aconteceu com o julgamento de elforado de carajá..
Dioneide