“Há um mito John Ford, que foi comparado, como criador de epopéias, a Homero. Ford seria o Homero das pradarias, identificado como tal por sua preferência pelo western como território de criação de lendas. O próprio Ford admitia-o. No começo dos anos 1950, em pleno macarthismo, realizou-se uma reunião de diretores, convocadas por Cecil B. de Mille, que queria tirar de seus pares uma posição conjunta de apoio à caça às bruxas desencadeada pelo senador McCarthy. De Mille estava quase convencendo os colegas quando um sessentão, usando tapa-olho, levantou-se e pediu a palavra. O que disse faz parte da lenda. Começou dizendo: ‘Meu nome é John Ford e eu faço westerns’. Prosseguiu demolindo a proposta de delação de De Mille."
Luiz Carlos Merten, em seu livro "Cinema - entre a realidade e o artifício", editora Artes e Ofícios, 2003
A foto acima é das filmagens de “No tempo das diligências” (Stagecoach), rodado em 1939, um dos principais filmes fordianos, ao lado de “Paixão de fortes” (Um darling Clementine), 1946, “Rastros de ódio” (The searchers), 1956 e, o meu preferido, “Vinhas da ira” (Grapes of wrath), 1940, baseado no romance de John Steinbeck.
Na cena, a carruagem para numa hospedaria. Ao centro, John Wayne desce e anda um pouco em direção à esquerda para observar o local. Passa ao lado do rebatedor de luz, a câmera gira um pouco corrigindo o enquadramento até ouvir o "corta" do diretor.
“Stagecoach” em si é um filme emblemático sobre o velho oeste americano, apesar (e talvez por isso) da predileção de Hollywood em massacrar os índios. A diligência atravessa a fascinante paisagem desértica do Monument Valley, ao som envolvente da música de Louis Gruemberg. Dentro embarcam um médico alcoólatra, uma prostituta, um banqueiro, um jogador, uma mulher grávida e um pistoleiro, Ringo Kid, interpretado por Wayne, ator presente na maioria dos filmes de Ford. Esses passageiros simbolizam um retrato da sociedade americana da época e até mesmo dos dias de hoje.
Durante a viagem, ameaçados pelo perigo dos Apaches, cada um dos viajantes revela aos poucos suas peculiaridades, seus desejos, mesquinharias, medos e contradições. E é justamente no bandido que eles depositam a segurança no percurso pelo deserto.
Orson Welles dizia ter assistido "Stagecoach" mais de 40 vezes, antes de produzir sua obra-prima, "Cidadão Kane", em 1940. Do outro lado da América, o mestre japonês Akira Kurosawa afirmou que era um de seus filmes favoritos e o influenciou quando fez "Os sete samurais", em 1954. E conversando certa vez com o cineasta Vladimir Carvalho, aqui em Brasília, ele me revelou sua admiração pelo cinema de John Ford, desde os tempos de menino no sertão paraibano.
Durante a viagem, ameaçados pelo perigo dos Apaches, cada um dos viajantes revela aos poucos suas peculiaridades, seus desejos, mesquinharias, medos e contradições. E é justamente no bandido que eles depositam a segurança no percurso pelo deserto.
Orson Welles dizia ter assistido "Stagecoach" mais de 40 vezes, antes de produzir sua obra-prima, "Cidadão Kane", em 1940. Do outro lado da América, o mestre japonês Akira Kurosawa afirmou que era um de seus filmes favoritos e o influenciou quando fez "Os sete samurais", em 1954. E conversando certa vez com o cineasta Vladimir Carvalho, aqui em Brasília, ele me revelou sua admiração pelo cinema de John Ford, desde os tempos de menino no sertão paraibano.
Um comentário:
Durante muitos anos, ainda pequeno, tinha uma imensa curiosidade de ver um set de filmagem. Era quase que uma paranóia. Esse sonho só veio se realizar há pouco tempo quando assisti em Copacabana uma gravação para o filme Buffo e Spalanzani, com o ator Tony Ramos. E o que posso dizer da minha sensação é o seguinte: foi uma das experiências mais intensas da minha vida. Algo único. Aproveitando o fato de você ter falado de No Tempo das Diligências, recomendo que leia A História do Western, de Antônio Carlos Gomes de Matos, da Editora Rocco. É uma viagem nostálgica pelo gênero. Abraços do crítico da caverna cinematográfica.
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