terça-feira, 16 de julho de 2024

mais um dia de saudade viva


Em 1997, os compositores irmãos piauienses radicados em Brasília Clodo, Climério e Clésio, gravaram para a TV Nacional um programa com suas músicas e clássicos de nosso cancioneiro, e para isso o projeto previa um outro cantor para dividir as escolhidas. Belchior estava na cidade e foi convidado.
Para a gravação à noite no palco do Teatro Dulcina, o compositor Clodo contou que foram encontrar Belchior pela manhã no hotel para combinarem o que cantariam. Sem um set list, o piauiense sugeriu O mundo é um moinho, “de um dos meus mestres, ao lado de Chico Buarque”, disse-me em conversa quando o entrevistei há dois anos para o documentário Pessoal do Ceará – Lado A Lado B.
Belchior alegrou-se e topou de imediato. E gravaram sem ensaio.
Um dado curioso que Clodo me disse é que a gravação foi somente para as câmeras, e de certa forma, fingiam que cantavam para uma plateia. Clodo riu com a lembrança, a concepção do show antecipava as lives do pandêmico 2020.
E uma curiosidade maior que ele me lembrou: os três que têm fortes ligações com o que se denominou Pessoal do Ceará, dividiram parcerias com Ednardo, Raimundo Fagner, Rodger Rogério, Fausto Nilo, Petrúcio Maia, Augusto Pontes, Vicente Lopes, Calé Alencar, menos com Belchior.
No vídeo abaixo, a interpretação de Clodo na composição de Cartola transpira um terno sentimento de pertencimento, pelo dizer de cada verso de poeta para a poeta, de melodia que escorre de mestre para discípulo. Há uma imensidão de beleza da música brasileira no cantar de Clodo.
Clodo Ferreira partiu hoje de manhã, aos 72 anos. Um dia vestido de saudade viva volta a incomodar.

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