domingo, 28 de agosto de 2022

o poema dentro do poema

 

Embarco no Trem da memória, de autoria do poeta e cineasta cearense, radicado em Brasília, Nirton Venancio. Deparo-me com o belo prefácio do poeta também cearense Valdi Ferreira Lima, e o pósfacio de outro poeta conterrâneo, Mailson Furtado, ganhador do prêmio Jabuti, e início minha prazerosa viagem nos poemas de Nirton, o menino de Crateús, que lá deixou um pedaço de seu coração e as marcas tácitas de seus passos nas ruas em descompasso.

Paro em várias estações, vejo a verve do autor que tem a alma assepsiada pelas águas do sagrado Poty. O mesmo rio “onde as águas barrentas e lavadeiras tristes" que Nirton cita em seus versos. Continuo minha viagem, percebo o estro do autor, criando belos versos, que são poemas dentro do poema. O menino pisa as areias mouras de Fortaleza. O seu eu lírico transborda versos impregnados de reminiscências.
O menino viu o mar! Cresceu, poetizou e com Rogaciano Leite Filho e outros escritores criou o Grupo Siriará de Literatura, em 1977. Hoje seus versos reverberam na Serra de Ibiapaba. Chego ao fim de minha viagem, não quero comparar o autor com Drumond, Fernando Pessoa, ou outros poetas. Eu li Nirton Venancio!!!
- Ismar Lemes de Abreu, poeta (Brasília – DF)
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Trem da memória, poesia
Editora Radiadora, 2022
Coordenação editorial: Alan Mendonça
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O livro foi lançado em 30 de julho na sede da Editora no Espaço Cultural Kraft, em Fortaleza, e está à venda com o autor e pelo site www.radiadora.com.br

domingo, 21 de agosto de 2022

o poeta se reinventa


 

o Trem passou no parque


foto Elizabeth Holanda

Hoje andei uns dois quilômetros para ler o seu livro, "Trem da memória". Fui até ao parque Parrião, atrás da rodoviária. Lá procurei uma árvore mais próxima da curva do rio, onde apenas se ouvia a correnteza das águas, o vento balançando as folhas e o canto dos pássaros.

Foi nesse cenário que me transportei até Crateús. Nunca passei por essas terras, seu chão sagrado. Mas ao ler seu livro, criei no meu imaginário a minha própria Crateús, com a minha infância e os meus momentos. A leveza com que você escreve, retratando um filme, nos projeta e nos faz sentir sua própria história. Muito obrigado, Nirton, pelo dia de hoje!
- Charles Wellington, cantor e compositor pernambucano, radicado em Fortaleza.
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Trem da memória, poesia
Editora Radiadora, 2022
Coordenação editorial: Alan Mendonça
Prefácio: Valdi Ferreira Lima
Posfácio: Mailson Furtado
O livro foi lançado em 30 de julho na sede da Editora, no Espaço Cultural Kraft, em Fortaleza, e está à venda com o autor e pelo site www.radiadora.com.br.

carta a um jovem poeta

 

Caro Mateus Lira, começo a manhã deste domingo terminando de ler suas Memórias agrestes, aqui de Brasília, longe de seu Sobral por onde eu passava o arco a caminho de meu Crateús. Termino de ler surpreso pela densidade memorialista de um jovem poeta. Poeta antigo, antigo no sentido mais sedimentado de tempo, de um olhar sensível que nele mergulha, no que “dar origem ao alicerce / profundo como o embrião”. O jovem das bandas do rio Acaraú e sua “lembrança do sertão” quando alguma coisa acontece em seu coração migrante e “os pés atritam com a rua Lavradio” no centro do velho Rio de Janeiro.

Em Poema torto você encontra na mesma esquina dessa perplexidade Pessoa e Ferreira Gullar na reverência da construção dos versos, na referência de um fim de tarde quando resolveu se arriscar na procura, quando “fecham-se as portas da velha livraria” no mesmo chão carioca de uma sexta-feira em seu calendário de transeunte. Que belo saber em suas páginas que “é fim de tarde / e meu coração é tudo que tenho”, como Drummond que evoca olhando os lírios do mar em Copacabana.
Sua saudade é mais memória do que apenas ontem. É o tempo de todos os tempos que a íris de seus vinte e poucos anos captou com sua inquietação de poeta. Memória que também se constrói “pela vida perdida no dia anterior”, o mesmo dia que o trouxe a esse seu bem-vindo primeiro livro.
O texto de Djabo Grande na orelha é a apresentação perfeita de um literato migrante da juventude de si e do sertão – o poeta que está só em suas memórias e nesse sertão que é dentro, como bem aponta Leo Mackellene no início do prefácio igualmente apurado, alertando – necessariamente! – que nasce um poeta, e quando um poeta nasce, devemos prestar atenção.
Presto-lhe toda a atenção, Mateus, porque me encontro em você quando também tive 25 anos de sonho e de sangue e escrevi meu roteiro dos pássaros na América do Sul. Compartilho a cumplicidade do “delito” de ser poeta nessa terra de doutores, e como você tão apropriadamente diz, “guardei na memória / o medo / mastigando o corpo”.
Leio mais uma vez os versos sublinhados na ponta do lápis. Ainda há manhãs neste domingo.

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

viagem ao interior


“Trem da memória”, o mais recente livro de poesia de Nirton Venancio, fascina. O belo poema longo é uma viagem no interior de outra viagem - o trem, lugar por excelência do ato de ler e deixar que a imaginação voe. Todo o poema é um símbolo da leitura, do leitor - passageiro de um trem que atravessa o sertão rumo ao mar, da ilusão de se viver em uma cidade grande - e vai tecendo memórias, histórias, lembranças, nomes, cidades, quintais, rios, ruas... solidão! Tecendo paixão, beleza, infância, casas, cinema, sonhos, a vontade impossível de retornar... encanto!
Impossível não lembrar a linda página de Liev Tolstói em “Ana Kariênina” (1878), mostrando a personagem lendo no trem, do início de “O Idiota” (1869), de Dostoiévski, do comovente conto "A viagem até o mar” (2003), do uruguaio Juan José Morosoli, e de seu compatriota Eduardo Galeano em “O livro dos abraços” (1989), no assombro/deslumbramento do menino frente ao mar: "Pai: me ajuda a olhar". E tantas outras páginas célebres da literatura mundial, de Tosltoi a Machado de Assis e seus trens, bondes como símbolos do encanto e da magia de ler/escrever.
Valdi Ferreira Lima diz no prefácio: "’Trem da Memória’ não é um livro de poesia para ser lido entre duas capas, mas uma biografia poética vivida e amada que continua para além de suas páginas", e Mailson Furtado no posfácio completa: "Nirton em seu ‘Trem da memória’ brinca de se inventar mutuamente, e se debulha sem qualquer cobrança mútua a escrever suas-nossas histórias". Palavras justas e acertadas, que morro de inveja por não ter sido eu que as disse.
Eu e nosso grande amigo em comum Galileu Viana, professor de Literatura, leitor atento e inteligente, afirmamos sem medo de nos equivocarmos: “O poema de Nirton não dá vontade de parar de ler; não desejamos que o livro termine e, mesmo depois de lida a última página, o poema-livro continua a reverberar em nossa memória para sempre".
- José Anchieta Oliveira, bibliófilo e crítico literário
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Trem da memória (Editora Radiadora, 2022), foi lançado em 30 de julho na sede da editora, Espaço Cultural Kraft, em Fortaleza.
Coordenação editorial: Alan Mendonça
Concepção gráfica: Léo de Oliveira e Alan Mendonça
Capa: Joseph M. W. Turner
Revisão: Galileu Viana
O livro está à venda com o autor, pelo site www.radiadora.com.br e na sede da editora.

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

o poema não acaba nunca





O trem chegou à estação João Felipe
e continua nos trilhos de minha vida.
Na capital
as bancas com suas notícias
a Cruzeiro com a miss na capa
os cowboys destemidos da EBAL.
Puxo os vagões da memória até quando?
O poema não acaba nunca.
O que escrevo são incompletudes
Trecho final do meu livro Trem da memória, lançado em 30 de julho na sede da Editora Radiadora, Espaço Cultural Kraft, 30 de julho, Fortaleza.
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Coordenação editorial: Alan Mendonça
Prefácio: Valdi Ferreira Lima
Posfácio: Mailson Furtado
O livro está à venda com o autor, pelo site www.radiadora.com.br e na sede da Editora
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video
OitoeMeio Filmes
melodia: Ezio Bosso, trecho de Rain, in your black eyes, 2016

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

a casa sempre foi poema


foto Alan Mendonça


fazer dessa casa
os mesmos tijolos de antes
:
os parentes seguiram no tempo
envelheceram
e desfolharam os janeiros no quintal
a casa encolheu suas paredes
feito as rugas na pele dos avós
das tias
das costureiras
das marias
das letícias
das gicélias
:
únicas em minha infância
múltiplas em minha saudade

- Trecho do meu livro Trem da memória, lançado em 30 de julho, na sede da Editora Radiadora, no Espaço Cultural Kraft, Fortaleza.
Editora Radiadora, 2022
Coordenação editorial: Alan Mendonça
Prefácio: Valdi Ferreira Lima
Posfácio: Mailson Furtado
O livro está à venda com o autor, pelo site www.radiadora.com.br e na sede da Editora.

epifânico


 

domingo, 14 de agosto de 2022

dias sem pai



A morte chegou pelo interurbano em longas espirais metálicas.
Era de madrugada. Ouvi a voz de minha mãe, viúva.
De repente não tinha pai.
- Versos iniciais de Elegia na morte de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, poeta e cidadão, de Vinicius de Moraes, 1954.
O poeta ausculta meu coração órfão.

 

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

naquela estação


 

crateús
cratheús como na inscrição da estação de trem
cratiús como no meu coração:
batata em meu prato
o lagarto que eu não matava com a baladeira
karati, karatús, karatis
o índio de uma tribo que nunca vi
o peixe que nunca pesquei em águas que nunca nadei
o nome do lugar está em mim
como topônimo neste poema
o logradouro onde me cabe
a saudade onde me espalho
a luz de um sol em minha rua.

Trecho do meu livro Trem da memória, lançado em 30 de julho, na sede da Editora Radiadora, no Espaço Cultural Kraft, Fortaleza.

Editora Radiadora, 2022
Coordenação editorial: Alan Mendonça
Prefácio: Valdi Ferreira Lima
Posfácio: Mailson Furtado

O livro está à venda com o autor, pelo site www.radiadora.com.br e na sede da Editora.
foto ©Nirton Venancio, 1980

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

luz



dois olhares




Dizia um oráculo antigo proscrito que todo poeta é maior que sua sombra, que sua casca, que sua alma. Nirton Venancio - poeta virtuose, da angiosperma memorialista - faz parte dessa linhagem milenar primeva e não escapa desse conceito poético existencial nem do dilema glorioso que todo poeta almeja de seguir adiante ou de voltar para sua sombra, sua casca e sua alma, quando tocado for por seus duendes e divindades inominadas.
'Trem da memória' é mais que um livro talhado por um mestre da poesia, senão um utilitário sentimental de que se vale o poeta Nirton Venancio para voltar a galope à sua sombra, sua casca, sua alma, quando tocadas por seus gnomos - esteja ele em Brasília, Santiago do Chile, em Crateús, no Pirambu ou na Praia de Iracema, em Fortaleza.
- Valdi Ferreira Lima, poeta
'Trem da memória' inicia-se como um plano-sequência, em mais um filme dirigido por Nirton Venancio, e segue e segue e segue num só fôlego a conversar pelo desbravar de ruas e outras reentrâncias que pulsam da memória marcadas em concreto e abstrato do que o menino de Crateús guardou para si de tantos e tantas. Nessa toada, o menino vai e volta, 'o menino sumiu' e nesse sumiço se emborca ao avesso contando o que viu, o que se sabe e o que queria saber, sem qualquer julgamento de certezas. Nele vê o trem, e também o longe para onde ele, e sua linha de ferro, esconde-se a levar tantas dúvidas do mundo. Tudo é possível. Tudo pode. Já foi e é, na cidade guardada que Nirton escreve por encontros e desencontros."

- Mailson Furtado, poeta
Trechos, respectivamente, do prefácio e posfácio.
Hoje no lançamento, apresentação do professor de Literatura Galileu Viana e participações musicais dos cantores e compositores Parahyba de Medeiros e Calé Alencar.
Trem da memória
Editora Radiadora, 2022
Coordenação editorial: Alan Mendonça
Concepção gráfica: Léo de Oliveira e Alan Mendonça

domingo, 7 de agosto de 2022

por seres tão inventivo e pareceres contínuo



Caetano Veloso, 80 anos.
Acima, desenho comemorativo desenvolvido por Pedro Inoue.
São traços do tempo tempo tempo ao senhor tão bonito, compositor de destinos.
Que tu sejas ainda mais vivo no som do nosso estribilho, é o nosso prazer legítimo o teu movimento preciso.
De modo que o nosso espírito ganhe um brilho definitivo ouvindo tua música e espalhes benefícios no tempo tempo tempo propício.
Mesmo quando todos sairmos do teu círculo por aqui, nós seremos e tu terás sido tempo tempo tempo, e será possível reunirmo-nos num outro tipo de vínculo.
Por isso oferecemos elogios nas rimas do teu estilo.
Gostamos muito de ti, leãozinho, e isso não ficará guardado em sigilo.
És um dos deuses mais lindos.

sábado, 6 de agosto de 2022

na mesma viagem


 Emocionada ainda com a leitura do livro de Nirton Venancio, 'Trem da memória', que dialoga tanto com a minha história e os meus sentimentos.

O livro é uma viagem pelos trilhos existenciais do poeta que, embora exilado muito cedo de sua terra natal, guardou consigo suas luzes e sombras, seus fantasmas imperecíveis. É no tecido da palavra que o menino e o adulto se encontram para segredarem 'Tudo. / Todos. / Tardes'; para adentrarem a casa que os habita num só corpo, como um vazio que ocupa espaço. O passado é um pedaço grande do quebra-cabeça do presente e da certeza freudiana de que o menino é o pai do homem.
O longo mas, aparentemente, inacabado poema autobiográfico compõe seu percurso sobretudo psicológico, sobre os escombros que a memória revitaliza, e assinala sua maturidade humana e poética.
- Aila Sampaio, poeta, professora de Cinema e Jornalismo da Unifor
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Trem da memória, poesia
Editora Radiadora 2022
Coordenação editorial: Alan Mendonça
Prefácio: Valdi Ferreira Lima
Posfácio: Mailson Furtado
No lançamento, apresentação do professor de Literatura Galileu Viana e participações musicais dos cantores e compositores Parahyba de Medeiros e Calé Alencar.

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Os Rataplans no Trem da memória

Lançado no sábado passado, dia 30, o novo trabalho de Nirton Venancio, "Trem da memória", crateuense escritor de poemas e de imagens.

Com alegria vi-me a bordo, ao som dos Rataplans (pag. 51), das relembranças desse conterrâneo da minha ancestralidade materna, com raízes no casarão que ficava nas proximidades de onde moraram meus pais (conhecidos como Doutor Barreto e Dona Maria, dos Barbosa-Marques de lá), na rua Cel. Lúcio (vizinhos do querido Ferreirinha) numa casa que tinha fundos para o conhecido Beco da Galinha Morta.
Esse casarão e seu entorno, amigo Nirton, são imagens (animadas) passando pela janela do seu trem e, de alguma forma, também do meu. Mas a cena da Vila Beatriz me fez re-vi/ver o começo da minha própria viagem.
Nirton Venancio, que belo livro você fez!"
- Cesar Barreto, compositor e cantor, um dos remanescentes da banda Os Rataplans.
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Trem da memória, poesia
Editora Radiadora 2022
Coordenação editorial: Alan Mendonça
Prefácio: Valdi Ferreira Lima
Posfácio: Mailson Furtado

O livro está à venda com o autor e pelo site www.radiadora.com.br

 

um beijo do Jô



Sem o teu beijo, sem a tua graça, sem o teu boa noite

 

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

fortuna crítica - Álder Teixeira


 Li atentamente o seu belíssimo ‘Trem da memória’. Poesia de elevada qualidade, amigo, de que emana um perfume do melhor memorialismo de Drummond, sem abrir mão de um estilo pessoal já inconfundível!

O curioso, e que confere ao seu grande poema uma força lírica extraordinária, é que, muito embora vazado numa linguagem poética de corte clássico, as imagens não se derramam com sentimentalismos afetados... Há uma precisão, um rigor na composição do texto que lembra João Cabral, ecoa Drummond e reedita a leveza poética de Manuel Bandeira. Só um grande poeta o faria num mesmo poema, e você o fez com maestria! Sem deixar de ser original, frise-se!
Por último, impressiona o domínio da carpintaria poemática, a estruturação do texto enquanto 'coisa produzida', enquanto forma, enquanto matéria artística! Parabéns, querido Nirton, imenso poeta!
- Alder Teixeira, professor de Estética, História da Arte, Literatura Dramática e Comunicação e Linguagem, UECE e IFCE
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Trem da memória, poesia
Editora Radiadora, 2022
Coordenação editorial: Alan Mendonça
Prefácio: Valdi Ferreira Lima
Posfácio: Mailson Furtado
O livro está à venda com o autor e pelo site www.radiadora.com.br

terça-feira, 2 de agosto de 2022

meu avô


Do lado fronteiriço do pai
meu avô joão
com um canivete esculpia palitos para os dentes
com lascas do cercado trazidas do curral
onde o boi mugia no final da tarde
a tarde que intendia o alpendre
o alpendre que estendia meu olhar
o meu olhar que entendia meu avô
e os fiapos de madeira pelo chão
e as réstias da tarde pelo vão
e os palitos no colo do avô joão.
Entre o velho e o menino:
os palitos,
a tarde
e o coração.
Trecho do meu livro Trem da memória, lançado em 30 de julho, na sede da Editora Radiadora, no Espaço Cultural Kraft, Fortaleza.
Coordenação editorial: Alan Mendonça
Prefácio: Valdi Ferreira Lima
Posfácio: Mailson Furtado
O livro está à venda com o autor e pelo site www.radiadora.com.br
Desenho para esta postagem: Fausto Nilo.

segunda-feira, 1 de agosto de 2022

minh'avó

 

Minh’avó caminhava pela grande casa.

Minh’avó muito pequena, até um dia desses,
caminhava pela grande casa.
Continuava com seus passos
seu cansaço
seus laços.
Minh’avó alterou a lei da física:
carregava no seu espinhaço tão frágil
décadas décadas décadas
datas datas datas
dias dias dias
carregava festas
aniversários
e algumas compras
carregava guerras
revoluções
e algumas brigas.
Teimosa, não se dava conta de toda essa carga
e olhava pela janela
o automóvel na rua
a moça na calçada
e ninguém mais em direção à igreja.

Trecho do meu livro Trem da memória, lançado em 30 de julho na sede da Editora Radiadora, no Espaço Cultural Kraft, Fortaleza.
Coordenação editorial: Alan Mendonça
Prefácio: Valdi Ferreira Lima
Posfácio: Mailson Furtado
O livro está à venda pelo site www.radiadora.com.br
Foto: ©Maurício Albano.
Jacy Fontenele em uma cena do meu filme Um cotidiano perdido no tempo, 1988.