Em 2007, o cantor, compositor e guitarrista Eric Clapton lançou A Autobiografia. Os relatos abertos, de coração escancarado, sem autocomiseração, fazem da publicação um livro de dor.
A travessia tumultuada do artista começou ainda no ventre, quando sua mãe aos 15 anos engravidou de um soldado no período em que tropas americanas e canadenses ocuparam a pequena cidade Ripley, ao sul da Inglaterra, no final da Segunda Guerra, 1944.
No ano seguinte os militares retornaram aos seus países, e a garota se isolou dos vizinhos para esconder a gravidez precoce. O romance furtivo com um aviador canadense deixou na barriga o menino Eric, que nasceu às escondidas, sob o manto da culpa, e foi criado até adolescente como “irmão” de sua mãe e “filho” de seus avós.
Entre inúmeras desilusões amorosas, brigas com os colegas da banda Cream, Jack Bruce e Ginger Baker, os atritos com George Harrison e Mick Jagger, por se apaixonar pelas respectivas mulheres, o trauma pela morte do amigo bluesman Stevie Ray Vaughan em 1990, na queda do helicóptero da equipe de Clapton após um show, o mergulho profundo no álcool e nas drogas, as desesperadoras crises de reabilitação, tudo fez do cantor um dos artistas mais deprimidos e angustiados que muitos desconhecem.
O ponto de virada em sua vida foi a dor maior, quando seu filho Conor, em 1991, aos 4 anos, caiu do 49° andar do apartamento onde morava com a mãe, a modelo italiana Lory Del Santos, de quem Eric estava separado.
O guitarrista largou tudo que antes não conseguia. Voltou aos shows e gravações. A bela e dolorida canção Tears in Heaven, dedicada ao filho, lançada no disco Rush, 1992, tornou-se um hino de saudade, aceitação e transmutação.
Eric Clapton sofre de neuropatia periférica, um mal que lesiona o sistema nervoso causado pelo excesso de álcool que consumiu. O guitarrista tem dificuldades de tocar seu instrumento, pois os movimentos das mãos e pés são afetados pela doença.
Com todas as limitações, Clapton é grato por estar completando hoje 73 anos. Como ele diz na canção acima, “beyond the door / there's peace, I'm sure / and I know there'll be no more / tears in Heaven…”