foto Arquivo NV
"Um a um, meus filmes são desiguais. No conjunto, eles se sustentam. Gostaria que eles fossem revistos como na leitura de um livro."
Declaração do cineasta francês Eric Rohmer, há três anos, ao lançar "Os amores de Astrée e Celadon", inédito no Brasil, e que se torna seu último filme. Rohmer, que faleceu ontem aos 89 anos, foi um dos principais nomes do movimento francês que bateu de cara com o conservadorismo dos anos 50, a Nouvelle Vague. Mas não era um cineasta que se mantinha na linha de frente, como Godard e Chabrol, e até mesmo Truffaut. Rohmer tinha um jeito sereno de ser. Seus filmes, no entanto, eram discursivos, recheados de seres humanos complexos, opostos, como o cineasta via a vida, o cotidiano nas ruas, os costumes de uma sociedade contraditória.
"O joelho de Clair" é um dos meus preferidos na filmografia de mais de 30 títulos. Lembro-me de ter visto em Fortaleza, possivelmente numa das sessões do Cinema de Arte do cine Diogo, lá pelos anos 70. E revi há uns três anos, em dvd. Um filme intrigante e belo, sobre um homem culto, que às vésperas de se casar, é atraído pelos encantos de uma adolescente.
O cinema de Rohmer tem um sabor irresistível de literatura. Parece mesmo que estamos assistindo a um filme e lendo um livro ao mesmo tempo. As duas belezas não se confundem: juntam-se na busca de desvendar enigmas. Não é à toa que seus filmes são até verborrágicos, não é por menos que ele fez o pedido para ser "relido"...
Uma de suas frases que gosto e anotei num dos meus cadernos de cinema é a que diz que "a conservação do passado garante a possibilidade da arte moderna". E nada mais moderno do que o seu cinema passado.