quarta-feira, 25 de novembro de 2009

esqueceram de mim

 
foto Aquarela Produções

Durante a entrega dos prêmios do 42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, ontem à noite, uma gafe imperdoável foi cometida pelo juri que escolheu os vencedores e, de certa forma, pela coordenação do evento. O  ótimo curta-metragem em 35mm "A noite por testemunha", do brasiliense Bruno Torres, rebeceu o troféu Candango na categoria de melhor ator, com o prêmio conferido ao elenco masculino, pelo destaque da interpretação conjunta. Foram chamados os atores Alessandro Brandão, André Reis, Diego Borges, Iuri Saraiva e Túlio Starling. O filme recria o episódio ocorrido na madrugada de abril de 1997, em plena capital do país: o assassinato do índio pataxó Galdino Jesus dos Santos por uma gangue de jovens de classe média  alta, interpretados pelo elenco citado. Acontece que outro ator presente no filme e ausente no palco, o indígena amazonense Fidelis Baniwa, tem a mesma importância na obra.  Seu personagem é o motivo do filme. Com uma participação na minissérie "Mad Maria", Fidelis assumiu a difícil tarefa de viver na pele a noite terrível do índio que foi queimado enquanto dormia numa parada de ônibus. Em termos de tempo em cena, sua participação não chega a ser menor nem maior que o restante. É proporcional dentro da narrativa fragmentada que o diretor se propôs a contar o que aconteceu. O ator, da tribo dos Baniwa, que vivem na fronteira do Brasil com a Colômbia e Venezuela, interpreta seu irmão pataxó, da tribo que vive no sul da Bahia, com a força e sinceridade que o personagem exige, e se destaca com sua atuação  extremamente natural, como se uma câmera invisível,  documental, acompanhasse naquela noite o próprio Galdino, perdido de sua tribo nas ruas de Brasília.

Diante da  atitude desastrada do festival, foi a platéia no cine Brasília, sempre calorosa, atenta e interativa,  que pegou o apito e gritou em alto e bom som: "e o índio?!" Os atores no palco se tocaram com o sinal de fumaça e chamaram Fidelis, que sentado bem atrás, atravessou sob aplausos os corredores lotados, subiu e pegou a estatueta agradecendo em aruak, sua língua nativa. Humildade e elegância em um só momento. Nobreza e simplicidade em só local.

Galdino foi simbolicamente queimado outra vez. Fidelis apagou as chamas.

5 comentários:

Selma Santiago disse...

Nirton, isso realmente foi imperdoável, parece que inconscientemente todos nós temos preconceitos de raça, cor, sexo.
Gostei do rosto dele aí na foto. Demonstra serenidade e altivez.

Vanessa Campos disse...

Excelente observação, querido. Bom que o público ainda está atento.

Nirton Venancio disse...

Selma, também creio que haja esse preconceito inconsciente.
Beijos.

Nirton Venancio disse...

Vanessa, que você por aqui... Sinto falta de suas observações...
Beijos.

zeus disse...

pqp cara! essa foi foda!