sábado, 11 de outubro de 2025

amar, verbo intransitivo


De todas as ótimas atuações de Diane Keaton no cinema, a interpretação de Sonja em Love and death (no Brasil, A última noite de Boris Grushenko, de Woody Allen, 1975), é particularmente marcante pelos diálogos precisos, afiados, filosóficos. E muito mais no jeito de falar, com sua beleza fulgurante.

Numa das sequências finais, sua prima Natasha expõe a intranquilidade do amor em relacionamentos dela e de pessoas próximas. Depois de ouvir aquele relato que lembra o poema Quadrilha de Drummond, fulano que amava sicrano que não amava beltrano, Sonja tranquilamente diz que “está ficando tarde” e arremata para que a moça compreenda de uma vez por todas o sentido do amor, seus abismos e sortilégios.
O que pode parecer um aforismo verborrágico e engraçado do roteiro de Woody Allen, é muito mais do que um jogo de palavras. O diretor usa diálogos e ambientações que de forma engenhosa parodiam clássicos da literatura russa. Estão lá Dostoiévsky e Tolstoi. E Diane Keaton para dizê-los.
A atriz faleceu hoje aos 79 anos. Tudo sempre fica tarde com a ausência.
Acima, o trecho de amor e dor.

manhã de sábado


 

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

poesia na rua


 

no meio da rua


“Um livro de poesia na gaveta / não adianta nada / lugar de poesia é na calçada”, começava Sérgio Sampaio sua belíssima composição Cada lugar na sua coisa, de 1976.
O poeta cearense Paulo Fraga-Queiroz ouviu o brado inquieto do compositor capixaba e botou nas ruas o bloco do genial projeto Poesia Em Cartaz: pegou 80 autores com respectivos versos curtos e estampou em 80 outdoors pelas ruas de Fortaleza!
E aí me lembrei de um verso de Paulo Leminski que disse por trás de seus óculos e bigode: "Belo seria se os anúncios luminosos não fossem comerciais". Fraga-Queiroz, que também é publicitário, satisfez o desejo do poeta curitibano.
Seu projeto reflete na paisagem urbana a desmercantilização da beleza e da arte. Poesia publicada na pele da cidade, a céu aberto, por suas esquinas e ruas, como registra a sinopse de sua ideia. Uma oportuna reflexão sobre o que é verdadeiramente belo, sobre o impacto da publicidade na sociedade através da poesia e na percepção da realidade na leitura de versos rápidos e tocantes.
Parabéns, Paulo, pelo seu imenso, urgente e necessário trabalho de divulgar poesia nas dimensões 9m x 3m de um outdoor.
Sinto-me honrado por estar na segunda temporada de 20 poetas.
E escolhi um verso que indicasse minha perplexidade e timidez sertaneja.

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Zélia Sales


 "...as duas se afastaram como se fossem bem ali salvar o mundo"

A poesia e o cinema na prosa de Zélia Sales.
Imensa!

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Jane Goodall


 

Poesia em Cartaz


"É com grande alegria que damos início à segunda edição do projeto Poesia em Cartaz.
E para abrir essa jornada, temos mais 20 poetas, letristas, romancistas nesta edição.
Destacamos a poesia de Nirton Venancio.
Poeta reconhecido, Nirton foi premiado em vários concursos nacionais de poesia. Publicou os livros Roteiro dos pássaros (prêmio Filgueira Lima de Poesia), Cumplicidade poética, Poesia provisória e Trem da memória. Além disso, é um dos fundadores do Grupo Siriará de Literatura e editou a revista Comboio de Literatura, ambos em Fortaleza.
Cineasta festejado, seu curta-metragem Um cotidiano perdido no tempo recebeu o prêmio Margarida de Prata da CNBB, além de melhor filme e melhor fotografia na Jornada da Bahia. E O último dia de sol foi premiado nos festivais de Curitiba, Cine Ceará e no Maranhão recebeu o Troféu Jangada da Organização Católica Internacional de Cinema.
Senhoras e senhores, com vocês, Nirton Venancio, um mestre da palavra e da imagem.
Nirton, pra mim, você é um dos grandes responsáveis por incendiar a cena cearense de literatura. Que honra ter você com a gente neste projeto, amigo! Arre-égua, macho! Evoé!
Serão 20 outdoors, 20 poetas, 20 poemas pelas ruas de Fortaleza. Uma miscelânea de vozes para dar conta da poesia nos dias de hoje.
A segunda edição vai acontecer de 06 a 19 de outubro. Ou seja, todos os participantes, a seu tempo, terão o momento de ver seu trabalho na rua e repercutindo nas redes sociais".
- Paulo Fraga-Queiroz, poeta e publicitário

sábado, 27 de setembro de 2025

um anjo em dois


Em Asas do desejo Wim Wenders centraliza a narrativa nas andanças, ou mais propriamente, adejos, de Damiel e Cassiel, como Cosme e Damião redivivos, contemporâneos, costumizados fisicamente de humanos, com seus casacos e imensas asas sobre a garbardine.

Acompanham as desventuras dos mortais do alto, de baixo e do lado, na mesma latitude e longitude da respiração.
Apesar de não sentirem na pele a dimensão das dores e o elevo dos prazeres terrenos, se compadecem e desconhecem em equivalentes proporções.
Caetano em Outros românticos faz um jogo de palavras e sutil aliteração final que remete a Serafim, da legião de anjos mais próximos de Deus na hierarquia celeste.
Anjos sobre Berlim
o mundo desde o fim
e, no entanto, era um sim
e foi e era e é e será sim.

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

eu viajei de trem


 "Nirton, finalmente estou conseguindo tempo pra me dedicar a seu livro.

Que bonita essa edição. E que belo e emocionante poema, meu amigo. Todo o conjunto (projeto gráfico, capa e a escrita falam a mesma língua, andam na mesma direção) me leva a viagem que é a sua, por óbvio, mas que também é daquela criança que ainda nos habita e entre nuances e um verso ou outro nos acena. De longe, porém dentro da gente. Enquanto a vida acontece quadro a quadro, da janela, enquanto o trem vai seu caminho. Estou emocionado, amigo! E a viagem ainda não terminou!
Não é à toa que desde a faculdade sou seu fã!"
- Paulo Fraga-Queiroz, poeta e publicitário (Fortaleza-CE)
..........................................................................................
Trem da memória, Editora Radiadora, 2022