De todas as ótimas atuações de Diane Keaton no cinema, a interpretação de Sonja em Love and death (no Brasil, A última noite de Boris Grushenko, de Woody Allen, 1975), é particularmente marcante pelos diálogos precisos, afiados, filosóficos. E muito mais no jeito de falar, com sua beleza fulgurante.
Numa das sequências finais, sua prima Natasha expõe a intranquilidade do amor em relacionamentos dela e de pessoas próximas. Depois de ouvir aquele relato que lembra o poema Quadrilha de Drummond, fulano que amava sicrano que não amava beltrano, Sonja tranquilamente diz que “está ficando tarde” e arremata para que a moça compreenda de uma vez por todas o sentido do amor, seus abismos e sortilégios.
O que pode parecer um aforismo verborrágico e engraçado do roteiro de Woody Allen, é muito mais do que um jogo de palavras. O diretor usa diálogos e ambientações que de forma engenhosa parodiam clássicos da literatura russa. Estão lá Dostoiévsky e Tolstoi. E Diane Keaton para dizê-los.
A atriz faleceu hoje aos 79 anos. Tudo sempre fica tarde com a ausência.
Acima, o trecho de amor e dor.