
"Foi sacanagem a forma que me expulsaram do
Itamaraty!", desabafou o poeta Vinicius de Moraes, lá pelos anos 70, a
respeito de sua saída compulsória, definitiva e sumária dos quadros do
Ministério das Relações Exteriores na época da ditadura.
Após 26 anos de serviços prestados ao Itamaraty, o poeta foi
"aposentado" pelo regime militar em 1968, já como resultado da
promulgação do AI-5. O general-presidente de plantão, Costa e Silva,
exigia o desligamento do serviço público de "bêbados, boêmios e
homossexuais". Brincalhão, Vinicius disse "eu sou o bêbado." O ministro
Magalhães Pinto foi curto e grosso: "demita esse vagabundo!"
Com a exoneração o poeta ficou muito magoado e deprimido. Extravasou
seus sentimentos na poesia e na música. Na língua nagô a expressão "na
tonga da milonga do kabuletê", gravada em 1970 em parceria com Toquinho,
significa algo como "vão todos à merda!" Curto e diplomático.
Há três anos, em Brasília, o poeta foi promovido pelo então chanceler
Celso Amorim à condição de Embaixador do Brasil, com a presença de
parentes e amigos, como a cantora Miúcha.
Em algum cantinho,
em bom lugar, o nosso eterno poetinha deve estar curtindo, com seu
uisquinho, essa tardia reparação, embora ele nunca tenha deixado de ser
o que lhe tomaram, pois dizia-se "eu, o capitão do mato, Vinicius de
Moraes, poeta e diplomata."
E porque hoje é sábado, e é seu aniversário, a benção, meu mestre.