terça-feira, 3 de outubro de 2023

irresponsabilidade que destrói

 


"- É pecado sonhar?
- Não, Capitu. Nunca foi.
- Então por que essa divindade nos dá golpes tão fortes de realidade e parte nossos sonhos?
- Divindade não destrói sonhos, Capitu. Somos nós que ficamos esperando, ao invés de fazer acontecer.".
Depois de Guimarães Rosa (vide postagem anterior), mais uma falsa atribuição volta a circular nas redes sociais! O trecho acima creditado a Dom Casmurro, de Machado de Assis, escrito em 1899, publicado em 1900, não existe!
A primeira vez que vi essa aberração na Internet foi há uns dez anos. Algum irresponsável “costumizou” um diálogo falso e outros tantos replicam no impulso da superficialidade da pressa das redes sociais. E o pior: dá a Machado um feitio coach com texto motivacional de folhetim eletrônico.
Se não leram, ou se algum dia o fizeram, poderiam ao menos, antes de publicar, consultar, confirmar. Se não têm o exemplar, está disponível para baixar em site de obras de domínio público. Download feito, é só digitar um trecho na janela da ferramenta de busca do PDF que, existindo, remete à página.
Se Bentinho, o protagonista-narrador com alma corroída pela dúvida, foi ou não traído por Capitu, “com seus olhos oblíquos e dissimulada”, Machado, sem dubiedade e determinado, deixou um dos mais belos e criativos questionamentos da literatura brasileira. A ambiguidade que mostra o ser humano emaranhado nas emoções que misturam o real e o imaginário.
Com golpes tão fortes na nossa literatura e a leviandade dessas postagens, o traído mesmo é o bruxo de Cosme Velho.

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